Novo estudo tenta localizar exoplanetas perdidos de galáxia anã engolida

Astrônomos buscam planetas que nasceram fora da Via Láctea. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Astrônomos buscam planetas que nasceram fora da Via Láctea. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A busca por exoplanetas já transformou nossa visão do cosmos. Mesmo assim, quase tudo o que sabemos vem de observações feitas dentro da Via Láctea, especialmente em estrelas ricas em metais que orbitam no disco galáctico. Agora, cientistas propõem uma mudança ousada: procurar mundos que não nasceram na nossa galáxia, mas em remanescentes de antigas galáxias anãs absorvidas pela Via Láctea. A iniciativa promete revelar como ambientes primitivos e pobres em metais moldam a formação planetária.

Esse salto científico ganha força com o projeto VOYAGERS, apresentado por Robert Aloisi e colegas nos Anais da Sociedade Astronômica do Pacífico. A proposta é investigar estrelas associadas ao antigo sistema Gaia-Enceladus, um núcleo estelar remanescente de uma galáxia anã engolida pela Via Láctea há cerca de 8 a 11 bilhões de anos. Essas estrelas carregam assinaturas químicas que representam um passado muito diferente do nosso. Pontos-chave do estudo:

  • Busca se planetas podem ter se formado em ambientes extremamente pobres em metais;
  • Foco em estrelas remanescentes da galáxia anã Gaia-Enceladus;
  • Uso do método de velocidade radial para detectar mundos do tamanho de Netuno;
  • Seleção rigorosa reduziu mais de 47 mil estrelas a apenas 22 alvos promissores;
  • Objetivo final é comparar planetas extragalácticos com aqueles típicos da Via Láctea.

Metalicidade é decisiva para a formação planetária

Estrelas antigas podem esconder mundos formados em outra galáxia. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Estrelas antigas podem esconder mundos formados em outra galáxia. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Ao longo da história cósmica, elementos pesados tornaram-se mais abundantes graças à morte de gerações de estrelas. Esses metais são essenciais para a construção de núcleos planetários, especialmente de gigantes gasosos. Por isso, estrelas com metalicidade elevada tendem a formar mais planetas massivos.

Em contrapartida, estrelas antigas, como as ligadas ao sistema Gaia-Enceladus, surgiram quando o universo era mais pobre em elementos pesados. Isso levanta questões intrigantes: será que nessas condições surgem menos planetas? Eles seriam menores? Teriam composições diferentes das observadas hoje?

Além disso, padrões já conhecidos mostram que mundos semelhantes a Júpiter são raros em estrelas pobres em metais, enquanto planetas menores, especialmente os de massa inferior à de Netuno, parecem surgir independentemente desses fatores. Assim, o ambiente extragaláctico pode esconder versões ainda mais extremas dessas tendências.

Como o VOYAGERS pretende desvendar esse enigma?

O levantamento selecionou apenas estrelas brilhantes e estáveis o bastante para medições de velocidade radial de alta precisão. Embora o projeto esteja cerca de 22% concluído, os astrônomos já acumulam centenas de observações. A etapa seguinte focará em 10 estrelas especialmente promissoras, acelerando a chance de uma detecção inédita.

Projeto investiga exoplanetas criados em ambientes de baixa metalicidade. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Projeto investiga exoplanetas criados em ambientes de baixa metalicidade. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Caso os cientistas encontrem mundos nesses ambientes antigos, será possível reconstruir parte da história planetária do universo. Por outro lado, se nenhum planeta surgir, isso reforçaria a hipótese de que a metalicidade desempenha papel crucial na formação de planetas, especialmente dos de média massa.

Em ambos os cenários, o estudo amplia nosso entendimento sobre quando e onde mundos habitáveis podem emergir, revelando que a origem galáctica pode ser uma peça vital desse quebra-cabeça cósmico.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.