Superfície de 3I/ATLAS mudou e origem do cometa permanece um mistério

Raios cósmicos transformam 3I/ATLAS e escondem origem do cometa. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Raios cósmicos transformam 3I/ATLAS e escondem origem do cometa. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O cometa 3I/ATLAS, o terceiro visitante interestelar registrado atravessando o Sistema Solar, trouxe uma surpresa para astrônomos e entusiastas do espaço. Observações recentes sugerem que sua superfície visível não corresponde mais ao material original, tendo sido radicalmente transformada por bilhões de anos de radiação cósmica. Esse fenômeno desafia a ideia de que os cometas interestelares funcionam como cápsulas do tempo intactas.

Ao analisar o objeto, cientistas perceberam que a camada externa do cometa sofreu alterações químicas e físicas profundas, apagando pistas sobre sua origem estelar. A mudança envolve não apenas o dióxido de carbono e a matéria orgânica, mas também a estrutura da crosta, que passou a refletir a intensa exposição ao espaço interestelar. Principais pontos sobre o 3I/ATLAS:

  • Superfície externa de 15 a 20 metros foi remodelada por raios cósmicos galácticos;
  • Camada visível não preserva o material primordial do sistema estelar de origem;
  • A composição química inclui CO₂ enriquecido e matéria orgânica alterada;
  • O efeito da radiação ocorre em escala de bilhões de anos;
  • Visitantes interestelares revelam mais sobre processos cósmicos do que sobre sua origem.

A “máscara cósmica” dos cometas interestelares

O cometa 3I/ATLAS não é uma relíquia intocada, mas sim um corpo moldado por milênios de exposição ao espaço profundo. Telescópios como o James Webb mostraram que a proporção de CO₂ em relação à água é significativamente maior do que em cometas nativos do Sistema Solar. Isso indica que a emissão de gases atuais reflete apenas a crosta irradiada, não o material original.

Superfície de 3I/ATLAS foi remodelada após bilhões de anos no espaço. (Imagem: International Gemini Observatory/NOIRLab/NSF/AURA/Shadow the Scientist)
Superfície de 3I/ATLAS foi remodelada após bilhões de anos no espaço. (Imagem: International Gemini Observatory/NOIRLab/NSF/AURA/Shadow the Scientist)

Essa descoberta sugere que, para compreender a verdadeira composição do cometa, os pesquisadores precisarão olhar além da superfície, utilizando modelos que considerem a alteração provocada por radiação cósmica ao longo de eras.

O impacto da radiação cósmica na história do cometa

Experimentos laboratoriais confirmam que os raios cósmicos galácticos podem transformar CO em CO₂ e sintetizar matéria orgânica modificada, explicando a composição observada no 3I/ATLAS. Em essência, o cometa oferece um registro não apenas de sua formação, mas também da dinâmica e efeitos do espaço interestelar.

Embora o núcleo interno ainda possa conter material original, a camada externa visível representa uma “fachada” moldada pela radiação, fornecendo informações sobre resistência e transformação em vez de origem primitiva.

Compreendendo a jornada interestelar do 3I/ATLAS

Enquanto o cometa se afasta do Sistema Solar, ele deixa para trás não apenas dados astronômicos, mas também uma lição sobre tempo, radiação e transformação cósmica. Observações contínuas, por telescópios terrestres e espaciais, poderão revelar novos detalhes sobre seu núcleo e a história de bilhões de anos de exposição ao espaço profundo.

Mesmo que o 3I/ATLAS não seja mais uma cápsula do tempo intacta, ele é um exemplo vivo de como o ambiente galáctico molda os corpos celestes, destacando a importância de estudar visitantes interestelares para compreender os efeitos da radiação e da erosão no espaço profundo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.