Novas descobertas indicam que os neandertais tinham habilidades simbólicas e artísticas muito antes do Homo sapiens. Pesquisas recentes publicadas na revista Science Advances mostram que fragmentos de ocre, encontrados em sítios arqueológicos da Crimeia e da Ucrânia, foram moldados e reutilizados como ferramentas de marcação, semelhantes a gizes de cera.
Esses achados sugerem que os neandertais não apenas utilizavam o ocre para fins práticos, mas também exploravam seu potencial simbólico e artístico, indicando planejamento e cognição abstrata.
Fragmentos de ocre e sinais de manipulação intencional
Entre os 16 fragmentos de ocre analisados, datados de até 70 mil anos, alguns apresentavam características que evidenciam uso deliberado:
- Moldagem e polimento das extremidades
- Ranhuras gravadas e superfícies lapidadas
- Sinais de desgaste por pressão, indicando reutilização
Destacam-se três peças que vão além do uso funcional:
- Um fragmento amarelo de 4,5 cm, moldado como um giz de cera, refiado repetidamente para marcar superfícies
- Um fragmento vermelho maior, também moldado em formato de giz
- Um fragmento alaranjado plano, com superfície polida e gravações
Esses padrões indicam que o ocre era empregado para marcação, registro ou comunicação, reforçando a ideia de comportamento simbólico.
Uso simbólico e artístico do ocre

O ocre, pigmento mineral rico em ferro, é conhecido por aplicações práticas na pré-história, como:
- Colorir superfícies ou objetos
- Decorar peles e utensílios
- Preparar materiais para conservação
No entanto, a análise das peças neandertais revela que o pigmento também tinha funções expressivas, possivelmente para:
- Comunicar ideias ou conceitos
- Reforçar identidade de grupo
- Registrar experiências significativas
Esses indícios mostram que os neandertais possuíam uma capacidade criativa e conceitual que se aproxima de comportamentos atribuídos anteriormente apenas ao Homo sapiens.
Implicações para a compreensão da mente neandertal
O uso de gizes de cera de ocre evidencia:
- Planejamento e manipulação intencional de materiais
- Capacidade de expressão simbólica
- Possível envolvimento em atividades artísticas e culturais
Essas descobertas reforçam a visão de que os neandertais contribuíram para a história da arte e do pensamento humano, ampliando nosso entendimento sobre a cognição de nossos parentes pré-históricos.

