O campo magnético da Terra, responsável por proteger a vida na superfície contra radiação solar, apresenta uma fragilidade crescente que preocupa cientistas e engenheiros espaciais. Uma área conhecida como Anomalia do Atlântico Sul (AAS) vem se expandindo nos últimos anos, aumentando a exposição de satélites e astronautas à radiação solar.
As medições contínuas realizadas pelos satélites Swarm, da Agência Espacial Europeia (ESA), mostram que a AAS cresceu significativamente desde 2014, abrangendo uma região equivalente a metade do tamanho da Europa continental. Esse ponto fraco no escudo magnético terrestre evidencia mudanças na dinâmica do núcleo da Terra, afetando diretamente a segurança em órbita.
- A AAS cresceu quase 1% da superfície terrestre desde 2014;
- A intensidade mínima da região caiu para 22.094 nanoteslas, inferior a anos anteriores;
- Regiões de campo forte na Sibéria e Canadá apresentaram alterações opostas;
- Astronautas na órbita baixa e satélites enfrentam maior exposição à radiação;
- O aumento do ponto fraco não indica inversão iminente do campo magnético.
Alterações globais no campo geomagnético
Os dados dos três satélites Swarm indicam que áreas de forte campo magnético, como sobre o Canadá, diminuíram em intensidade, enquanto regiões na Sibéria se fortaleceram. Essa redistribuição evidencia que o campo geomagnético não é estático: ele sofre flutuações em décadas, afetadas por movimentos do ferro fundido no núcleo da Terra, localizado a cerca de 2.900 km abaixo da superfície.

Além de proteger a vida na Terra, o campo geomagnético amortece partículas solares e radiação cósmica que atingiriam satélites em órbita baixa, como a ISS, e instrumentos científicos críticos. Com a expansão da AAS, essas tecnologias estão cada vez mais vulneráveis a falhas eletrônicas, apagões e danos permanentes.
Impactos na exploração espacial
Para os astronautas, o aumento da radiação representa maior risco de danos ao DNA e possibilidade de desenvolvimento de câncer ao longo da vida. Já os satélites podem sofrer problemas contínuos, já que permanecem em órbita por períodos muito mais longos do que missões humanas. A recomendação dos cientistas é reforçar o design de espaçonaves e equipamentos eletrônicos para mitigar esses riscos crescentes.
Entendendo a Anomalia do Atlântico Sul
A AAS é caracterizada por uma intensidade magnética abaixo de 26.000 nanoteslas, enquanto ímãs comuns apresentam milhões de nanoteslas. O estudo publicado na Physics of the Earth and Planetary Interiors detalha que o aumento do ponto fraco é um fenômeno natural, relacionado a padrões de circulação do núcleo terrestre, sem indicar uma inversão iminente.
Mesmo assim, a observação contínua do campo magnético é fundamental para previsões e proteção de infraestruturas críticas. Pesquisas futuras devem focar em como essas flutuações afetam diferentes regiões do planeta e como preparar tecnologias e missões espaciais para resistir a essa ameaça crescente.

