Aquecimento global ameaça até 64% das espécies medicinais do Cerrado

Mudanças climáticas podem reduzir 64% das plantas medicinais do Cerrado. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Mudanças climáticas podem reduzir 64% das plantas medicinais do Cerrado. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O Cerrado brasileiro, conhecido por sua rica biodiversidade e importância cultural, enfrenta uma ameaça sem precedentes. Pesquisas recentes indicam que mudanças climáticas podem reduzir em até 64% as áreas adequadas para o plantio de plantas medicinais, incluindo espécies emblemáticas como o pequi (Caryocar brasiliense), o barbatimão (Stryphnodendron adstringens) e o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa). O estudo, publicado na revista Biodiversity and Conservation (Springer Nature), analisou mais de 100 espécies nativas do bioma central brasileiro.

Os modelos climáticos utilizados projetam o impacto de temperaturas mais altas e alterações nos padrões de chuva, evidenciando os riscos à biodiversidade e aos serviços ecológicos prestados por essas plantas. Principais impactos identificados:

  • Redução de até 64% das áreas adequadas para espécies medicinais;
  • Migração de algumas plantas em direção à Amazônia devido à “savanização”;
  • Possíveis desequilíbrios ecológicos em áreas de destino;
  • Perda de recursos tradicionais utilizados por comunidades locais;
  • Necessidade de políticas de conservação integradas e estratégicas.

Savanização da Amazônia e migração de espécies

Um dos fenômenos destacados pelo estudo é a migração de espécies do Cerrado para a Amazônia, impulsionada pelo processo de savanização, em que áreas da floresta tropical podem se transformar em vegetação mais aberta, semelhante à savana. Embora esse movimento ofereça novos refúgios climáticos, ele também pode gerar desequilíbrios ecológicos, afetando a flora e fauna locais e o funcionamento do ecossistema amazônico.

Estratégias para preservação de plantas medicinais

Pequi, barbatimão e jatobá-do-cerrado estão em risco até 2060. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Pequi, barbatimão e jatobá-do-cerrado estão em risco até 2060. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O estudo indica que ações proativas são essenciais para proteger as espécies medicinais do Cerrado. Entre as estratégias destacam-se a criação de novas áreas protegidas, o desenvolvimento de planos de migração assistida e a implementação de políticas de conservação integradas entre gestores e conservacionistas dos biomas Cerrado e Amazônia.

Além disso, a pesquisa reforça a importância de modelos de distribuição de espécies, que permitem identificar quais plantas estão sob maior risco e priorizar esforços de conservação, garantindo a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos oferecidos pelo Cerrado.

Contexto global e relevância científica

A publicação do estudo coincide com a COP30, realizada em Belém, Pará, reunindo líderes globais, cientistas e organizações da sociedade civil para discutir medidas de combate às mudanças climáticas. Resultados como os apresentados neste estudo demonstram a urgência de políticas climáticas e ambientais que considerem o impacto direto sobre espécies nativas e ecossistemas estratégicos.

O Cerrado não é apenas um bioma rico em biodiversidade, mas também um reservatório de plantas medicinais essenciais para a saúde humana e para práticas tradicionais, reforçando a importância de ações de preservação imediatas e integradas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.