A amamentação não é apenas um gesto de cuidado com o bebê: ela representa uma defesa natural poderosa do corpo feminino. Um estudo recente, publicado na Nature e apresentado no ESMO 2025, aponta que o aleitamento contribui para a redução do risco de câncer de mama, especialmente o triplo negativo, conhecido por sua agressividade e rápido crescimento.
Durante a gestação e a lactação, o organismo feminino desenvolve células T CD8+, que atuam na vigilância e destruição de células que podem se tornar cancerosas. Essas células continuam ativas no organismo por muitos anos, atuando como uma memória do sistema imunológico e potencializando a resposta a possíveis agressões futuras.
Evidências científicas recentes
Pesquisadores da Austrália e da Malásia analisaram amostras de tecido mamário de mais de 250 mulheres que realizaram mastectomias preventivas ou redução de mama. O estudo revelou que mulheres que tiveram filhos e amamentaram apresentaram maior quantidade de células imunológicas protetoras em comparação com aquelas que não tiveram filhos.
Em testes com camundongos, os resultados reforçaram a hipótese: animais que passaram por gestação e lactação tiveram crescimento tumoral mais lento quando comparados aos que não passaram pelo processo. Além disso, análises clínicas envolvendo mais de mil pacientes mostraram que mulheres que amamentaram tiveram sobrevida maior e tumores com mais infiltração de células de defesa.
Como a amamentação fortalece a imunidade

Os benefícios da amamentação vão além do bebê e incluem:
- Aumento de células T CD8+, essenciais para identificar e eliminar células anormais.
- Proteção duradoura do tecido mamário, funcionando por décadas.
- Redução de risco em câncer triplo negativo, mais comum em mulheres jovens.
- Efeito cumulativo: quanto maior o tempo de aleitamento, mais forte a proteção.
Estudos indicam que a proteção significativa já começa a partir de seis meses de aleitamento, mas 12 meses é o período recomendado para maximizar os efeitos, especialmente contra o câncer triplo negativo.
Fatores hormonais e imunológicos
Além da imunidade, mudanças hormonais pós-parto influenciam a divisão e maturação celular, tornando o tecido mamário menos propenso a transformações malignas. No entanto, gestação tardia, após os 40 anos, pode reduzir parcialmente esse efeito protetor, tornando o acompanhamento médico ainda mais importante.
Impacto social e prevenção
O estudo reforça a importância de ações que apoiem a amamentação:
- Flexibilidade no trabalho para mães lactantes.
- Incentivo à amamentação em creches e ambientes públicos.
- Educação sobre os benefícios imunológicos para mães e bebês.
Assim, amamentar se torna não apenas um ato de cuidado infantil, mas também uma estratégia natural de prevenção de câncer, evidenciando a relevância do aleitamento na saúde materna de longo prazo.