Enquanto os líderes mundiais se reúnem no Brasil para a COP30, um alerta científico lança uma sombra sobre as promessas de proteção da natureza. Pesquisadores da Universidade de Sydney, do Imperial College London e de outras instituições internacionais revelaram que milhares de programas ambientais estão sendo silenciosamente abandonados, comprometendo o progresso global em biodiversidade e redução de carbono.
O estudo, publicado na Nature Ecology & Evolution, descreve o fenômeno como um “abandono da conservação”, quando projetos ambientais deixam de ser mantidos, fiscalizados ou financiados, mesmo continuando a figurar em relatórios oficiais. Essa prática cria uma ilusão de progresso enquanto, na prática, a natureza segue desprotegida.
Entre os principais problemas identificados, destacam-se:
- Falta de monitoramento sobre o real funcionamento das áreas protegidas;
- Cortes de financiamento que inviabilizam a continuidade dos programas;
- Alterações legais que reduzem a proteção ambiental;
- Extinção de direitos territoriais de comunidades locais;
- Uso indevido de créditos de carbono e compensações de biodiversidade.
Quando a conservação se torna estatística
O estudo indica que até um terço dos projetos de conservação é abandonado poucos anos após o início. Isso significa que bilhões de dólares investidos acabam sem efeito duradouro. Além disso, ecossistemas que levariam décadas para se recuperar são novamente degradados, anulando os avanços obtidos.
Os pesquisadores citam casos em Chile, Canadá e Marrocos, onde áreas marinhas e florestais foram rebaixadas, desclassificadas ou simplesmente extintas. O fenômeno também atinge países desenvolvidos, incluindo a Austrália, que tem sofrido com subfinanciamento e falta de gestão ativa em parques nacionais e áreas marinhas.
A erosão silenciosa das metas da COP30

As metas da COP30, como proteger 30% das terras e mares até 2030, estão em risco direto. O problema é que, mesmo com novas áreas sendo criadas, não há garantias de manutenção a longo prazo. Sem fiscalização, esses espaços se tornam apenas fronteiras administrativas, incapazes de preservar a biodiversidade de fato.
A análise mostra que, desde 1900, mais de 3.700 áreas de conservação foram oficialmente rebaixadas ou desprotegidas em todo o mundo, eventos conhecidos como PADDD (Rebaixamento, Redução e Desclassificação de Áreas Protegidas). Além das mudanças legais, há ainda um padrão global de abandono de iniciativas comunitárias, especialmente na América do Sul e África.
Um futuro sustentável exige continuidade
O grupo de pesquisa defende a criação de um sistema global de monitoramento e transparência ambiental, capaz de avaliar não apenas a implementação, mas também a persistência dos projetos de conservação. Também propõe financiamento estável e de longo prazo, essencial para que os esforços gerem impacto real.
Sem essa continuidade, o planeta corre o risco de ver suas metas ambientais transformadas em estatísticas ilusórias. A COP30 representa, portanto, uma oportunidade crítica para repensar não apenas a criação de novas áreas protegidas, mas principalmente a sobrevivência das que já existem.

