Descoberta em autópsias indica possível motor silencioso do Alzheimer

Autópsias revelam inflamação precoce em cérebros com Alzheimer. (Foto: Pamai's Images via Canva)
Autópsias revelam inflamação precoce em cérebros com Alzheimer. (Foto: Pamai's Images via Canva)

A compreensão sobre o Alzheimer, uma das doenças neurodegenerativas mais devastadoras, acaba de ganhar um novo capítulo. Pela primeira vez, uma análise detalhada de autópsias cerebrais conseguiu identificar alterações profundas em células que atuam como a linha de frente da defesa do cérebro. 

Os achados, publicados na revista científica Nature Aging, sugerem que a inflamação precoce pode ter um papel maior do que se imaginava na progressão da doença.

Microglia: as defensoras cerebrais que podem perder o controle

A microglia é fundamental para manter o cérebro saudável. Essas células:

• limpam resíduos celulares
• removem sinapses desgastadas
• preservam a comunicação entre os neurônios
• ajudam a formar circuitos essenciais para memória e cognição

Porém, as autópsias revelaram que, em cérebros afetados pelo Alzheimer, parte dessas células passa a assumir um estado pré-inflamatório persistente. Em vez de proteger, elas se tornam mais reativas, liberando substâncias que podem acelerar danos neuronais.

Esse comportamento desregulado cria um cenário de risco, no qual a célula encarregada de proteger o cérebro se transforma em uma fonte contínua de estresse inflamatório.

O que os pesquisadores observaram nas análises pós-morte

Microglia desregulada pode acelerar danos no cérebro. (Foto: Getty Images por IA via Gemini)
Microglia desregulada pode acelerar danos no cérebro. (Foto: Getty Images por IA via Gemini)

Os cientistas analisaram amostras de tecido cerebral de doadores, sendo parte deles diagnosticados com Alzheimer e parte sem a doença. O objetivo era identificar, em nível genético, como a microglia se comportava em cada perfil.

Utilizando sequenciamento de RNA em núcleo único, a equipe identificou dez grupos distintos de microglia, três deles nunca descritos antes. Um desses grupos, altamente associado a processos inflamatórios e morte celular, era muito mais frequente em cérebros afetados pela doença.

Essas descobertas indicam que o desequilíbrio na atividade da microglia pode ser um dos fatores que contribuem para:

• aumento da inflamação
• redução da capacidade de limpeza cerebral
• maior vulnerabilidade de neurônios
• avanço silencioso da neurodegeneração

Descoberta pode transformar o futuro do tratamento

Ainda não se sabe se a microglia desregulada inicia o processo do Alzheimer ou se apenas reage à doença. De qualquer forma, o estudo traz uma pista essencial: diferentes subtipos de microglia podem se tornar alvos estratégicos para terapias futuras.

Essa abordagem abre caminho para tratamentos que:

• reduzam a inflamação precoce
• restabeleçam o equilíbrio celular
• retardem a perda de neurônios
• protejam o envelhecimento cerebral

A descoberta oferece uma nova perspectiva para uma doença complexa e ainda sem cura, reforçando a importância de compreender profundamente o sistema imunológico do cérebro.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.