A descoberta de um dinossauro fossilizado no exato momento em que devorava um crocodilo pré-histórico representa um registro extraordinário da vida no fim do período Cretáceo.
A nova espécie, chamada Joaquinraptor casali, pertence ao grupo dos megaraptores e foi descrita em 2025 na revista Nature Communications, no estudo “Latest Cretaceous megaraptorid theropod dinosaur sheds light on megaraptoran evolution and palaeobiology”, conduzido por Lucio M. Ibiricu e colaboradores.
Fóssil quase completo e revelador

O espécime foi encontrado na formação rochosa Lago Colhué Huapi, na Patagônia central, Argentina. Ele inclui crânio, vértebras, membros anteriores e posteriores, oferecendo uma visão rara da anatomia do animal. A análise osteohistológica sugere que o indivíduo tinha cerca de 19 anos, indicando que já era maduro, embora ainda apresentasse sinais de crescimento.
O fóssil preserva ainda um osso de crocodilo pré-histórico entre as mandíbulas do dinossauro, mostrando que ele morreu durante a alimentação. Este registro direto de predação é extremamente raro e permite inferir hábitos de caça e dieta de forma inédita para os megaraptores.
Características únicas dos megaraptores
Os megaraptores possuíam garras anteriores alongadas e poderosas, adaptadas para capturar e dominar presas de grande porte.
Diferente de outros carnívoros famosos como o Tiranossauro Rex ou o Velociraptor, a força desses animais estava concentrada nos membros dianteiros. A estrutura do crânio, mais leve e alongada, complementava a eficiência predatória, tornando-os predadores de topo da região.
O estudo de Ibiricu et al. destaca ainda várias autapomorfias no esqueleto de Joaquinraptor, como particularidades nas vértebras, úmero e ulna, que o diferenciam de outros megaraptores conhecidos.
Implicações paleobiológicas
Este achado oferece informações valiosas sobre ecologia e evolução tardia dos megaraptores:
- Predador de topo: reforça que megaraptores dominavam os ecossistemas da Patagônia tardia.
- Dieta variada: confirma que incluíam crocodilos pré-históricos entre suas presas.
- Sobrevivência tardia: indica que o grupo persistiu até próximo ao limite Cretáceo-Paleógeno.
- Evidência de comportamento: mostra como manipulavam e atacavam suas presas.
Além disso, por ter sido encontrado com quase todo o esqueleto preservado, o fóssil permite comparações anatômicas precisas com outros terópodes, ajudando a reconstruir diversidade morfológica e estratégias ecológicas dos predadores do Cretáceo Superior.
Por que este estudo é um marco?
Antes desta descoberta, os fósseis de megaraptorídeos eram fragmentários, dificultando a compreensão de sua biologia e comportamento. O registro do Joaquinraptor casali com sua presa preservada fornece evidências diretas sobre a cadeia alimentar e hábitos de caça, além de permitir reconstruções anatômicas detalhadas e revisões sobre a evolução tardia dos predadores da América do Sul.
A pesquisa representa um avanço significativo para a paleontologia, mostrando que, até pouco antes da extinção dos dinossauros, os megaraptores continuavam a ocupar o topo da cadeia alimentar na Patagônia, com estratégias de caça especializadas e eficiência predatória impressionante.

