A infância é um período crucial para o desenvolvimento emocional e físico, e experiências traumáticas nesse período podem deixar marcas duradouras. Uma pesquisa recente liderada pela Universidade de Sydney e publicada no Australian and New Zealand Journal of Psychiatry revela que cerca de 42% dos adultos australianos vivenciaram algum tipo de trauma na infância, elevando em 50% o risco de doenças mentais e problemas relacionados ao uso de substâncias durante a vida adulta.
O levantamento avaliou informações de 15.893 indivíduos, considerando 26 categorias de vivências traumáticas, negligência, acidentes graves, desastres naturais, doenças, ferimentos e falecimentos inesperados de familiares. Cerca de metade desses eventos ocorreu antes dos 10 anos, impactando crianças ainda pequenas, algumas com apenas seis anos.
Impactos psicológicos e comportamentais duradouros

Os resultados mostram que o trauma infantil não se limita à infância. Indivíduos que sofreram eventos adversos têm maior propensão a desenvolver ansiedade, depressão, transtorno do pânico e, em casos extremos, pensamentos suicidas. Além disso, essas experiências aumentam o risco de adoecer com doenças crônicas, como asma, artrite, câncer e problemas renais, evidenciando que o trauma pode afetar tanto a mente quanto o corpo ao longo de toda a vida.
No ambiente escolar, dois em cada cinco jovens enfrentam algum tipo de trauma antes do ensino médio. Isso pode se refletir em comportamentos disruptivos, como suspensões e expulsões, que muitas vezes são consequências diretas do sofrimento emocional. Reconhecer sinais de trauma e implementar estratégias de atendimento sensível é essencial para mudar o percurso da vida dessas crianças.
Necessidade de ações estruturadas
O estudo ressalta a urgência de integrar o atendimento informado sobre trauma em todos os sistemas que lidam com crianças e adolescentes. Isso inclui escolas, hospitais, unidades de atenção primária, serviços de justiça e proteção infantil.
Os pesquisadores defendem que reconhecer o trauma infantil como fator central para problemas de saúde mental e física é essencial para prevenção e intervenção precoce.
Além disso, é necessário treinamento especializado para profissionais e recursos adequados para identificar e apoiar crianças afetadas, prevenindo impactos a longo prazo.
Estudos anteriores já indicam que traumas não tratados geram custos sociais e econômicos significativos, reforçando a importância de estratégias abrangentes de prevenção e cuidado.

