O Lago Turkana, localizado no norte do Quênia, é famoso como um verdadeiro berço da humanidade, abrigando fósseis que ajudaram a reconstruir a história evolutiva dos hominídeos. Recentemente, pesquisas inovadoras indicam que sua história vai além da antropologia, conectando mudanças climáticas, atividade tectônica e até mesmo a produção de magma no Vale do Rift da África Oriental. Esses achados sugerem que o clima regional pode influenciar profundamente processos geológicos antes considerados exclusivamente internos à Terra.
Estudos publicados na revista Scientific Reports, conduzidos por pesquisadores da Universidade de Syracuse e da Universidade de Auckland, revelam uma relação direta entre variações no nível da água do lago e atividade sísmica e vulcânica. Durante períodos mais secos, a redução do peso da água sobre a crosta terrestre favorece o derretimento de rochas e acelera o movimento de falhas geológicas, aumentando a probabilidade de terremotos.
- Níveis do lago variaram mais de 100 metros ao longo de milênios;
- Períodos secos aumentaram a atividade de falhas e vulcões;
- Períodos úmidos diminuíram o movimento tectônico devido à pressão da água;
- Dados coletados cobrem 27 falhas com alta precisão nos últimos 10 mil anos;
- Mudanças climáticas atuais podem influenciar riscos geológicos futuros.
Conexão entre clima e tectônica
O Lago Turkana não se formou por acaso. Entre 2,2 e 2 milhões de anos atrás, atividades vulcânicas bloquearam a saída da bacia, criando o antigo Lago Lorenyang, precursor do Turkana. Desde então, mudanças no clima, alternando entre períodos úmidos e secos, remodelaram a região e impactaram diretamente a crosta terrestre. Durante épocas mais secas, a pressão sobre a crosta diminui, facilitando o derretimento de magma e tornando as falhas mais ativas.

Essa descoberta reforça a ideia de que a tectônica de placas não é governada apenas por forças internas da Terra, mas também por fatores externos, como o clima e a hidrosfera, o que oferece uma nova perspectiva para a geologia moderna.
Trabalho de campo extremo
A coleta de dados exigiu esforços logísticos extraordinários. Pesquisadores transportaram navios de pesquisa por terrenos remotos, enfrentando ventos fortes, isolamento e condições desérticas extremas. Apesar disso, conseguiram realizar varreduras de falhas e medir a atividade tectônica com precisão inédita, estabelecendo um marco para futuros estudos em regiões de rift continental.
Implicações para a evolução humana e riscos futuros
Além de iluminar a paisagem enfrentada pelos primeiros hominídeos, essas descobertas ajudam a entender como eventos geológicos moldaram o acesso a recursos vitais, como água e alimentos, no passado. Atualmente, com as mudanças climáticas globais, o estudo sugere que futuras variações nos níveis de água podem influenciar a atividade tectônica e vulcânica, ainda que em escalas de tempo geológico.Portanto, avaliações de risco e políticas públicas devem considerar não apenas a tectônica local, mas também as flutuações climáticas, garantindo uma visão integrada dos fatores que moldam a superfície da Terra.

