O consumo frequente de alimentos ultraprocessados pode causar efeitos muito mais profundos do que se imaginava. Um estudo publicado na revista científica Nutrients identificou que esses produtos industrializados são capazes de provocar alterações químicas no DNA, modificando a forma como os genes se expressam, um processo conhecido como modulação epigenética.
Como os ultraprocessados afetam o DNA
Pesquisadores analisaram o DNA de 30 mulheres adultas, comparando as que tinham maior ingestão de alimentos ultraprocessados com aquelas que mantinham dietas mais naturais. As amostras, retiradas dos leucócitos (células de defesa do sangue), passaram por um mapeamento genético detalhado.
Os resultados mostraram 80 regiões do DNA alteradas quimicamente nas mulheres que consumiam mais produtos ultraprocessados. Essa modificação, chamada de hipometilação, não muda a sequência genética, mas ativa genes que deveriam estar “silenciados”, o que pode gerar desequilíbrios celulares e aumentar o risco de doenças metabólicas e inflamatórias.
Entenda o impacto epigenético

As mudanças epigenéticas funcionam como interruptores biológicos que ligam ou desligam a atividade de determinados genes. Embora essas alterações não mudem o código genético em si, elas podem ser herdadas e influenciadas pelo ambiente e pelo estilo de vida, incluindo a alimentação.
Com o tempo, esse processo pode contribuir para o desenvolvimento de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até câncer, criando um elo entre a dieta moderna e as doenças crônicas não transmissíveis.
O que evitar e o que priorizar
Para reduzir esse impacto no DNA, especialistas recomendam substituir os ultraprocessados por alimentos naturais e minimamente processados. Entre os principais cuidados estão:
- Evitar produtos com listas longas de ingredientes, conservantes, corantes e aromatizantes artificiais;
- Priorizar frutas, verduras, legumes, grãos integrais e proteínas naturais;
- Manter equilíbrio entre carboidratos, gorduras boas e fontes de fibras;
- Reduzir o consumo de bebidas adoçadas, embutidos e fast food.
O que o estudo representa
Apesar de ser uma pesquisa piloto, os achados reforçam que o impacto dos ultraprocessados começa antes dos sintomas aparecerem, afetando o funcionamento celular desde o nível genético. Isso sugere que cuidar da alimentação é também proteger o DNA, garantindo uma resposta biológica mais equilibrada e resistente a mutações nocivas.
O estudo abre caminho para novas investigações sobre o papel da epigenética na nutrição e saúde pública, destacando como pequenas mudanças nos hábitos alimentares podem ter efeitos duradouros e até hereditários.

