Montanha sagrada de Teotihuacan guardava templo perdido de peregrinação milenar

Ruínas de Teotihuacan revelam o poder do antigo México. (Foto: Dmitry Rukhlenko via Canva)
Ruínas de Teotihuacan revelam o poder do antigo México. (Foto: Dmitry Rukhlenko via Canva)

Entre as paisagens áridas e montanhosas ao sul do Vale de Teotihuacan, arqueólogos encontraram um santuário milenar de peregrinação que pode mudar o entendimento sobre os rituais da antiga Mesoamérica. 

O local, identificado no Cerro Patlachique, abrigava cerimônias dedicadas às divindades da água e das tempestades, reforçando a ligação espiritual entre o povo teotihuacano e as montanhas que o cercavam.

A montanha que guardava um templo esquecido

Com ajuda de tecnologia lidar e análises em campo, os pesquisadores mapearam 40 monumentos de pedra, sendo 34 deles inéditos, esculpidos diretamente na montanha. No topo do Cerro Patlachique, foram identificadas estruturas cerimoniais, como templos, reservatórios de água e uma avenida principal orientada de acordo com o eixo arquitetônico de Teotihuacan, a cidade que floresceu entre os séculos II e VI d.C.

As evidências indicam que o local foi usado desde os períodos iniciais de urbanização até muito após a queda da cidade, mostrando uma continuidade de culto e peregrinação por séculos.

Deuses da chuva e da fertilidade em destaque

Reconstrução de El-12 revela a riqueza simbólica dos teotihuacanos. (Foto: Nawa Sugiyama et al., Antiquity)
Reconstrução de El-12 revela a riqueza simbólica dos teotihuacanos. (Foto: Nawa Sugiyama et al., Antiquity)

Entre as esculturas, sobressaem representações de duas divindades centrais: o Deus da Tempestade, com olhos salientes e presas afiadas, e a Deusa das Águas, símbolo de fertilidade e abundância.

Os arqueólogos identificaram:

  • Nove esculturas dedicadas ao Deus da Tempestade
  • Três à Deusa das Águas
  • e três cenas em que ambos aparecem juntos, representando a união entre o céu e a terra, essenciais para as colheitas e o ciclo da vida.

Essas figuras eram acompanhadas por símbolos calendáricos gravados nas rochas, usados para marcar dias rituais e períodos agrícolas, evidenciando o conhecimento astronômico dos teotihuacanos.

Um espaço entre o sagrado e o popular

A análise estilística das esculturas revelou uma curiosa dualidade: algumas obras seguem o padrão refinado da arte oficial teotihuacana, enquanto outras exibem traços simples e espontâneos, provavelmente feitos por peregrinos.

Isso mostra que o Cerro Patlachique era um local acessível tanto à elite religiosa quanto ao povo comum, funcionando como um centro espiritual coletivo. Em algumas pedras, novas esculturas foram gravadas sobre imagens antigas, sinal de que o local era revisitado e ressignificado ao longo do tempo.

Elo entre cidade, montanha e céu

A posição do Cerro Patlachique também parece ter sido intencional. O santuário se alinha com outras montanhas sagradas da região, como o Cerro Gordo, formando um eixo simbólico norte-sul que refletia a harmonia entre os elementos naturais e as crenças cósmicas.

Esse padrão reforça que os teotihuacanos não limitavam a espiritualidade às pirâmides urbanas: para eles, a natureza era uma extensão do sagrado. As montanhas, em especial, eram vistas como portais para o divino, de onde vinham a chuva, o trovão e a fertilidade da terra.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.