Escavações na Nigéria expõem civilização avançada e arte milenar perdida

Escavações revelam a grandeza do antigo Reino de Benin. (Foto: Pexels via Canva)
Escavações revelam a grandeza do antigo Reino de Benin. (Foto: Pexels via Canva)

Escavações recentes realizadas na Cidade de Benin, na Nigéria, estão revelando uma civilização que, séculos antes da colonização europeia, já dominava planejamento urbano, metalurgia e arte em bronze com um grau de refinamento impressionante. Os novos achados ajudam a reconstruir a história do antigo Reino de Benin, um dos impérios mais poderosos da África Ocidental.

As investigações fazem parte de um amplo projeto arqueológico ligado à construção do Museu de Arte da África Ocidental (MOWAA), conduzido em parceria com o Museu Britânico e a Comissão Nacional de Museus e Monumentos da Nigéria. Essa é a maior escavação arqueológica já realizada na região, marcando um ponto de virada no estudo do passado africano.

Achados que reescrevem a história africana

Entre 2022 e 2024, os arqueólogos examinaram dois grandes sítios históricos, usando radar de penetração no solo e escavações em larga escala. As análises revelaram camadas de ocupação com até três metros de profundidade, abrangendo mais de mil anos de história.

As descobertas incluem:

  • Restos de arquitetura palaciana e muralhas defensivas;
  • Ferramentas e artefatos de metalurgia, evidenciando domínio técnico;
  • Objetos cerâmicos e artísticos, que revelam o alto nível cultural e simbólico do povo beninense.

Os dados obtidos por radiocarbono indicam que algumas estruturas são anteriores à formação oficial do Reino de Benin, o que sugere a existência de comunidades urbanas bem organizadas desde o primeiro milênio d.C. Os resultados foram publicados na revista científica Antiquity.

A era de ouro e o trágico saque colonial

Cidade de Benin guarda tesouros de uma civilização perdida. (Foto: Pexels via Canva)
Cidade de Benin guarda tesouros de uma civilização perdida. (Foto: Pexels via Canva)

Durante os séculos 16 e 17, o Reino de Benin viveu sua era de ouro, destacando-se pelo comércio regional e pela produção dos célebres bronzes de Benin, esculturas de metal consideradas obras-primas da arte africana.

No entanto, esse legado foi interrompido em 1897, quando tropas britânicas invadiram a cidade, destruíram o palácio real e saquearam milhares de peças de arte, muitas das quais ainda se encontram em museus europeus. Desde então, poucas escavações haviam sido realizadas no local, até o início deste novo projeto.

Passado que volta à tona

As recentes escavações não apenas resgatam vestígios físicos, mas também a identidade cultural e a memória histórica do povo beninense. O Instituto MOWAA, atualmente em construção, será um centro de pesquisa e preservação dedicado a proteger e estudar os artefatos recuperados, permitindo que a Nigéria reconecte-se com seu passado milenar.

Esses achados reforçam a importância do Reino de Benin como símbolo de sofisticação e criatividade africana, revelando que muito antes das potências coloniais, o continente já abrigava sociedades urbanas complexas, inovadoras e artisticamente exuberantes.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.