Ciência cria chip que faz pacientes cegos voltarem a ler e escrever

Microchip sob a retina devolve visão a pacientes cegos. (Foto: Pexels via Canva)
Microchip sob a retina devolve visão a pacientes cegos. (Foto: Pexels via Canva)

A medicina acaba de dar um passo impressionante rumo à recuperação da visão em pessoas diagnosticadas com degeneração macular relacionada à idade (DMRI), uma das principais causas de cegueira após os 50 anos. Um microchip fotovoltaico, do tamanho de um grão de areia, foi capaz de restaurar parcialmente a capacidade de leitura em pacientes que haviam perdido completamente a visão central.

O avanço, documentado em estudo publicado na revista New England Journal of Medicine, pode representar uma nova era para o tratamento da atrofia geográfica (AG), forma avançada da DMRI que afeta milhões de pessoas no mundo.

Como a tecnologia devolve a visão

O novo procedimento consiste na inserção de um microchip quadrado de apenas 2 milímetros sob a retina, tão fino quanto um fio de cabelo. Esse dispositivo atua como uma retina artificial, captando sinais visuais e transformando-os em impulsos elétricos que o cérebro consegue interpretar como imagem.

O sistema é composto por três partes principais:

  • Implante fotovoltaico, posicionado sob a retina;
  • Óculos com câmera integrada, que capta as imagens do ambiente;
  • Processador portátil, responsável por converter os sinais e enviá-los ao cérebro via nervo óptico.

Com esse circuito, o paciente passa a receber estímulos luminosos que recriam a percepção visual perdida. Embora a leitura ainda exija concentração e adaptação, os resultados são considerados extraordinários.

Resultados animadores e impacto clínico

Avanço biotecnológico permite enxergar letras novamente. (Foto: Pixelshot via Canva)
Avanço biotecnológico permite enxergar letras novamente. (Foto: Pixelshot via Canva)

Na pesquisa, realizada em cinco países europeus, 38 pacientes com atrofia geográfica foram avaliados. Desses, 32 receberam o implante Prima, desenvolvido pela empresa Science Corporation, da Califórnia. Após um ano, 27 pacientes conseguiram voltar a ler, alcançando melhora média equivalente a cinco linhas em uma tabela oftalmológica, resultado sem precedentes para casos de cegueira central completa.

O dispositivo exige treinamento para que o cérebro aprenda a interpretar as novas imagens, mas o ganho em autonomia e qualidade de vida é notável. Muitos participantes relataram conseguir ler livros, cartas e até realizar atividades intelectuais que antes eram impossíveis.

Próximos passos da tecnologia

Apesar dos resultados promissores, o implante Prima ainda está em fase experimental e não possui licença comercial. A expectativa é que, após novas etapas de validação, ele seja disponibilizado a pacientes por meio de programas de saúde pública nos próximos anos.

Pesquisadores acreditam que a combinação entre biotecnologia, neurociência e inteligência artificial tornará o implante ainda mais eficiente e acessível, abrindo caminho para futuras aplicações em outros tipos de cegueira adquirida.

A inovação pode não apenas restaurar a visão, mas também reacender a independência e a autoestima de milhares de pessoas que convivem com a cegueira causada pela degeneração macular.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.