Você pode ter sensibilidade ao glúten sem saber, veja os sinais

Mulheres são mais propensas à sensibilidade ao trigo. (Foto: Africa Images via Canva)
Mulheres são mais propensas à sensibilidade ao trigo. (Foto: Africa Images via Canva)

Uma revisão científica publicada na revista Gut no dia 28 de outubro de 2025 revelou que a sensibilidade ao glúten e ao trigo não celíaca pode afetar muito mais pessoas do que se imaginava. 

O levantamento analisou quase 50 mil indivíduos e constatou que 1 em cada 10 pessoas relata desconfortos digestivos ou sistêmicos após consumir alimentos com glúten, mesmo sem diagnóstico de doença celíaca ou alergia alimentar.

Embora ainda não existam exames específicos para confirmar a condição, o estudo reforça que os sintomas são reais e devem ser avaliados com cuidado, principalmente para evitar dietas restritivas desnecessárias.

Sintomas que vão além do intestino

Entre os sintomas mais frequentes estão inchaço abdominal, dor, fadiga, dores de cabeça e alterações no funcionamento intestinal. Algumas pessoas também relatam problemas de concentração, irritabilidade e dores articulares, o que sugere que o impacto da sensibilidade pode ir muito além do sistema digestivo.

Segundo os pesquisadores, esses sintomas geralmente desaparecem quando o glúten é retirado da alimentação e retornam após sua reintrodução, o que reforça a ligação entre o consumo do trigo e o mal-estar relatado.

Conexão entre o intestino e o cérebro

Sensibilidade ao glúten causa dores e fadiga sem diagnóstico. (Foto: Shisuka via Canva)
Sensibilidade ao glúten causa dores e fadiga sem diagnóstico. (Foto: Shisuka via Canva)

O estudo destacou ainda que a sensibilidade ao glúten pode estar associada a distúrbios da interação intestino-cérebro, um campo que investiga como a microbiota intestinal se comunica com o sistema nervoso. Essa relação explicaria a presença simultânea de sintomas digestivos e neurológicos, como dificuldade de concentração, ansiedade e até mudanças de humor.

Por isso, o tema tem chamado atenção não apenas de gastroenterologistas, mas também de neurologistas e psiquiatras, que vêm observando padrões semelhantes em seus pacientes.

Mulheres são mais afetadas

Os dados da revisão mostraram que a sensibilidade ao glúten é mais comum em mulheres adultas, principalmente entre aquelas que também têm síndrome do intestino irritável. Em muitos casos, a condição é auto diagnosticada, e cerca de 40% dos pacientes seguem uma dieta sem glúten sem orientação profissional, o que pode levar a deficiências nutricionais e dificultar o diagnóstico de outras doenças.

Por isso, os especialistas recomendam avaliação médica antes de eliminar o glúten da dieta.

Diagnóstico ainda em construção

Como não existem marcadores específicos, o diagnóstico continua sendo de exclusão, ou seja, é feito após descartar doença celíaca e alergias alimentares. A equipe responsável pela revisão de 2025 defende que a sensibilidade ao glúten deve ser reconhecida como uma condição legítima, pertencente ao espectro dos distúrbios intestino-cérebro.

O objetivo é criar critérios diagnósticos mais precisos e permitir que os pacientes recebam tratamento personalizado, sem depender de tentativas baseadas apenas em exclusão alimentar.

Entender é o primeiro passo

Os especialistas reforçam que, antes de seguir modismos ou dietas restritivas, é essencial buscar orientação médica e nutricional. Identificar corretamente a origem dos sintomas evita carências nutricionais e melhora a qualidade de vida de quem convive com desconfortos digestivos.

O estudo é um avanço importante para compreender como o glúten afeta o organismo e pode ajudar a diferenciar reações reais de percepções equivocadas, um passo essencial para a saúde intestinal e cerebral.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.