Os gatos são famosos por sua independência, mas longe de serem enigmáticos, eles possuem um repertório rico de comunicação corporal e vocal. Mesmo assim, a maioria das pessoas não interpreta corretamente esses sinais, e isso pode colocar tanto o animal quanto o tutor em risco.
Um estudo recente publicado na revista Frontiers in Ethology, conduzido por Julia Henning, revelou o quanto os humanos têm dificuldade em reconhecer quando um gato está desconfortável ou estressado.
Erros nos sinais emitidos pelos gatos
Gatos usam o corpo como principal ferramenta de comunicação. Movimentos de cauda, posição das orelhas, tensão muscular e pequenas mudanças no olhar formam um “vocabulário” preciso. Contudo, o estudo mostrou que grande parte das pessoas não distingue sinais positivos de negativos.
Participantes que assistiram a vídeos de interações entre humanos e gatos acertaram a avaliação de sinais negativos em níveis próximos ao acaso. Mesmo comportamentos considerados óbvios, como tentar fugir, morder, sibilar ou recuar, foram interpretados erroneamente como “brincadeira” em uma parcela significativa das respostas.
O impacto do estresse felino na saúde

O estresse contínuo em gatos desencadeia efeitos físicos e comportamentais importantes. Ele está associado a:
- inflamações recorrentes, incluindo problemas urinários,
- aumento da agressividade,
- marcação inadequada,
- evitação de contato.
Além disso, o risco para os humanos também cresce. Mordidas e arranhões de gato podem causar infecções graves e transmissão de doenças, como a Doença da Arranhadura do Gato (DAG), tornando essencial reconhecer sinais de desconforto antes que a situação evolua.
Pequenos sinais que dizem muito
O estudo destaca que os primeiros sinais de estresse são geralmente discretos. Identificá-los evita que o gato evolua para comportamentos defensivos.
Entre os sinais de alerta precoce estão:
- virar ou afastar o corpo,
- bloquear tentativas de toque,
- orelhas voltadas para trás ou para os lados,
- cauda agitada ou rígida,
- tensão repentina no corpo,
- lamber o nariz ou lábios,
- encolher o corpo ou usar as patas para afastar o contato.
Quando esses sinais não funcionam, o gato recorre a comportamentos mais intensos, como rosnados, sibilos, tremores, mordidas e arranhões, que são sempre o último recurso.
Como interagir com segurança e respeito
Para reduzir o estresse, é importante que as interações sigam o ritmo do gato. Prefira:
- tocar apenas cabeça e pescoço,
- evitar barriga, patas e base da cauda,
- usar brinquedos com cabo para brincar,
- dar espaço sempre que o gato se afastar,
- observar o contexto antes de interpretar movimentos de cauda.
Quando o tutor respeita os limites do animal, o gato se sente mais seguro e a convivência se torna mais harmoniosa.
A importância de se tornar “fluente em gato”
O estudo publicado na Frontiers in Ethology, reforça que compreender sinais sutis pode prevenir estresse, melhorar a relação e evitar acidentes. Aprender essa linguagem não exige experiência prévia: apenas observação, paciência e respeito.
Com prática, qualquer pessoa consegue reconhecer quando o gato quer carinho, quando quer brincar, e quando simplesmente quer distância.

