Vírus oculto pode explicar colapso das colônias de abelhas no Canadá

Vírus enfraquecem rainhas e colocam colônias de abelhas em risco. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Vírus enfraquecem rainhas e colocam colônias de abelhas em risco. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A redução persistente das colônias de abelhas melíferas no Canadá permanece um mistério inquietante, apesar de décadas de monitoramento. Um estudo recente publicado por pesquisadores ligados à Science investiga um possível gatilho biológico até então subestimado: vírus capazes de comprometer a fertilidade das rainhas, desencadeando conflitos internos que colocam toda a colmeia em risco. A descoberta reacende a discussão sobre os motivos que mantêm o ciclo anual de perdas tão elevado.

Segundo os autores, a saúde da rainha é o eixo central da sobrevivência da colmeia. Quando essa figura essencial perde eficiência, todo o sistema social é abalado. O estudo destaca cinco pontos essenciais:

  • Infecções virais podem reduzir a fertilidade das rainhas;
  • Rainhas enfraquecidas têm ovários menores e menor ritmo de postura;
  • Operárias detectam alterações químicas e iniciam a supersedição;
  • Colônias que substituem sua rainha têm risco muito maior de colapso;
  • O controle do ácaro varroa, vetor de vírus, torna-se decisivo.

Rainhas sob pressão com carga viral aumentada

Em uma colmeia saudável, a rainha é responsável por fornecer milhares de ovos diariamente, garantindo a renovação constante da população. Além disso, ela mantém a harmonia interna ao liberar um conjunto de feromônios reguladores que informam às operárias que tudo está sob controle.

Entretanto, análises conduzidas pelos cientistas mostraram que rainhas consideradas “deficientes” apresentavam carga viral significativamente maior. Esses vírus afetam diretamente a fisiologia das fêmeas reprodutivas, reduzindo o tamanho dos ovários e diminuindo a disposição para ovipor, combinação que fragiliza a organização da colmeia.

Um desequilíbrio químico que acende o alerta

Supersedição das rainhas aumenta mortes em colmeias canadenses. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Supersedição das rainhas aumenta mortes em colmeias canadenses. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

As operárias, sempre vigilantes, conseguem identificar quando a rainha não desempenha sua função plena. O estudo observou que a infecção viral altera frações específicas do feromônio de comitiva, especialmente compostos ligados à percepção de vitalidade reprodutiva. Quando essa “assinatura química” muda, o comportamento coletivo se volta para a substituição da rainha.

Esse processo, chamado supersedição, é arriscado: a nova rainha pode não acasalar corretamente, e a transição provoca interrupções que fragilizam toda a colmeia. Por isso, colônias que passam por supersedição têm probabilidade muito maior de perecer, sobretudo durante o inverno.

Ácaro varroa como inimigo antigo das abelhas do Canadá

Controle do ácaro varroa é chave para proteger colônias de abelhas. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Controle do ácaro varroa é chave para proteger colônias de abelhas. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Embora múltiplos fatores contribuam para a queda das colônias, incluindo pesticidas, clima e baixa diversidade genética, o estudo reforça que os vírus representam um problema universal e ainda sem tratamento específico. Como grande parte deles é transmitida ou amplificada pelo ácaro varroa, o controle rigoroso desse parasita desponta como a principal estratégia imediata.

A intensificação do manejo contra a varroa, realizada várias vezes ao ano, pode ser cansativa para produtores, mas permanece como a barreira mais eficaz para manter as rainhas saudáveis até que terapias antivirais sejam desenvolvidas.

Ao esclarecer a ligação entre infecções virais e o declínio do desempenho das rainhas, o estudo oferece um novo caminho para compreender por que as colônias continuam desaparecendo em ritmo acelerado. Garantir o bem-estar da rainha, controlar o varroa e fortalecer práticas de manejo tornam-se pilares essenciais para preservar espécies vitais para a polinização global.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.