Urano e Netuno podem ser gigantes rochosos, não apenas planetas gelados

Urano e Netuno podem ser gigantes rochosos, não apenas gelados (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Urano e Netuno podem ser gigantes rochosos, não apenas gelados (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Durante décadas, Urano e Netuno foram classificados como os gigantes de gelo do sistema solar, considerados ricos em água e outros compostos gelados. No entanto, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Zurique e do NCCR PlanetS propõe uma visão completamente nova: esses planetas podem ser mais rochosos do que se imaginava, desafiando a categorização tradicional. A classificação planetária atual divide os planetas em três grupos:

  • Rochosos terrestres: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte;
  • Gigantes gasosos: Júpiter e Saturno;
  • Gigantes de gelo: Urano e Netuno.

O novo estudo, publicado na revista Astronomy & Astrophysics, questiona se Urano e Netuno deveriam ser definidos apenas pelos seus gelos, sugerindo que suas composições internas podem variar significativamente, incluindo cenários ricos em rochas ou em água.

Modelos internos revolucionários

Estudo revela composição interna surpreendente dos planetas azuis (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Estudo revela composição interna surpreendente dos planetas azuis (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Para investigar a verdadeira natureza desses planetas, os cientistas desenvolveram um modelo agnóstico e fisicamente consistente. O processo envolve:

  • Criar um perfil de densidade aleatório para o interior do planeta;
  • Calcular o campo gravitacional compatível com dados observacionais;
  • Inferir a possível composição baseada em cálculos repetidos até encontrar a melhor correspondência.

Essa abordagem inovadora permite explorar uma gama totalmente nova de possibilidades, sem se limitar às hipóteses simplistas do passado.

Campos magnéticos complexos e camadas ocultas

Além da composição, o estudo oferece insights sobre os enigmas magnéticos de Urano e Netuno. Ao contrário da Terra, que possui polos magnéticos bem definidos, esses planetas apresentam campos mais complexos, com múltiplos polos.

Modelos inovadores desafiam séculos de teoria sobre gigantes exteriores (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Modelos inovadores desafiam séculos de teoria sobre gigantes exteriores (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O modelo sugere que camadas de água iônica dentro dos planetas podem gerar dínamos magnéticos, explicando essas estruturas incomuns. Curiosamente, o campo magnético de Urano parece se originar de regiões mais profundas que o de Netuno, um detalhe que pode alterar nossa compreensão de sua dinâmica interna.

A necessidade de novas missões espaciais

Apesar das descobertas promissoras, ainda há incertezas sobre o comportamento dos materiais sob condições extremas de pressão e temperatura no núcleo desses planetas. Portanto, novas missões dedicadas a Urano e Netuno são essenciais para revelar sua composição real e confirmar se são verdadeiros gigantes rochosos ou gigantes de gelo.

Portanto, os dados atuais abrem espaço para uma nova perspectiva científica: Urano e Netuno podem não ser apenas gelados, mas sim mundos mais complexos e rochosos, desafiando séculos de teorias e estimulando futuras pesquisas planetárias.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.