As ondas de calor continuam sendo um dos sintomas mais incômodos da menopausa, afetando sono, humor e qualidade de vida de milhões de mulheres. Entretanto, até pouco tempo atrás, a terapia hormonal era praticamente a única opção com eficácia comprovada. Para mulheres com contraindicações ou receio do uso de hormônios, isso deixava uma lacuna no cuidado.
Esse cenário começou a mudar com o desenvolvimento de medicamentos não hormonais, criados para agir diretamente nos circuitos neurológicos que controlam a temperatura corporal. Eles abrem espaço para uma abordagem mais personalizada e ampliam as possibilidades de tratamento.
Como esses novos medicamentos atuam no cérebro

Durante a menopausa, a queda do estrogênio altera a sensibilidade do centro de termorregulação localizado no cérebro. Esse mecanismo fica hiperativo, interpretando pequenas mudanças de temperatura como calor excessivo, o que desencadeia os fogachos.
Os novos medicamentos agem sobre receptores específicos de neurocininas, neurotransmissores envolvidos na modulação da percepção térmica. Ao bloquear esses receptores, eles restabelecem o equilíbrio da resposta térmica sem introduzir hormônios no organismo.
Fezolinetanto: o primeiro da nova geração
O fezolinetanto, aprovado nos Estados Unidos em 2023, foi o primeiro medicamento dessa classe. Ele atua bloqueando o receptor da neurocinina 3, ajudando a reduzir a hiperatividade do centro que regula a temperatura.
Em estudos clínicos conduzidos com mais de 3 mil mulheres, observou-se:
- Queda expressiva na intensidade dos fogachos
- Diminuição significativa da frequência diária das ondas de calor
- Percepção de melhora já no início do tratamento
- Uso simples e seguro, com ingestão única diária
Por ter metabolismo hepático elevado, o acompanhamento das enzimas do fígado é recomendado durante o tratamento.
Elinzanetant: uma formulação com ação dupla
Dois anos depois, a FDA aprovou outro avanço importante: o elinzanetant, um medicamento que bloqueia simultaneamente dois tipos de receptores, os de neurocinina 1 e neurocinina 3. Esse efeito combinado intensifica a resposta terapêutica e amplia o controle sobre os sintomas vasomotores.
Os estudos clínicos mostram que o elinzanetant oferece:
- Redução robusta de fogachos em quantidade e intensidade
- Melhora da qualidade do sono
- Impacto positivo na qualidade de vida durante a menopausa
O pedido para liberação no Brasil já foi encaminhado.
Por que muitas mulheres evitam hormônios?
Mesmo sendo considerado tratamento de referência, o uso de hormônios não é adequado para todos. Pacientes com histórico de trombose, câncer de mama ou doenças hepáticas precisam evitá-los. Além disso, o medo gerado após o estudo Women’s Health Initiative (WHI), publicado em 2002, influenciou negativamente a busca pela terapia hormonal.
Estudos como o publicado em 2022 na revista Climateric reforçam essa realidade: embora 73% das mulheres relatem ondas de calor, só 52% procuram tratamento, e apenas 22% fazem reposição hormonal.
Uma nova perspectiva para quem busca alternativas
A chegada de terapias não hormonais representa um avanço importante na saúde feminina. Elas não substituem completamente todos os efeitos da reposição hormonal, mas oferecem uma alternativa eficaz, especialmente para quem não pode ou prefere não usar hormônios.
Até que esses medicamentos estejam liberados no Brasil, componentes essenciais do estilo de vida continuam sendo aliados valiosos. Manter atividade física regular, priorizar sono reparador e adotar alimentação equilibrada são estratégias que ajudam a reduzir o impacto dos fogachos e melhoram o bem-estar geral.

