Transplante com rim universal pode revolucionar o futuro da doação de órgãos

Rins neutros podem reduzir filas de espera. (Foto: Romero's Image's)
Rins neutros podem reduzir filas de espera. (Foto: Romero's Image's)

Cientistas deram um passo importante rumo a um futuro em que qualquer pessoa possa receber um órgão compatível, independentemente do tipo sanguíneo. Em um estudo publicado na Nature Biomedical Engineering, uma equipe conseguiu converter um rim do tipo A em tipo O, criando um órgão universal capaz de se adaptar a diferentes receptores. 

Essa inovação pode redefinir o cenário da doação de órgãos e reduzir significativamente o tempo de espera por transplantes.

Uma nova fronteira na compatibilidade sanguínea

Inovação enzimática transforma transplantes. (Foto: Alexander's Images)
Inovação enzimática transforma transplantes. (Foto: Alexander’s Images)

O grande desafio dos transplantes é a rejeição imunológica, causada pelos antígenos que diferenciam os tipos sanguíneos A, B, AB e O. Esses antígenos fazem com que o sistema imunológico identifique o órgão transplantado como uma ameaça, provocando rejeição. 

No entanto, com o uso de enzimas específicas, os pesquisadores conseguiram remover esses marcadores de superfície, transformando o rim em um órgão neutro, semelhante ao tipo O, considerado o doador universal.

O rim convertido foi implantado em um paciente com morte cerebral e sangue tipo O, funcionando adequadamente por dois dias antes de apresentar sinais de rejeição. Mesmo com esse resultado temporário, o avanço é considerado uma prova de conceito valiosa para futuros aprimoramentos da técnica.

Como a técnica transforma o órgão

O método, batizado de ECO (Enzyme-Converted Organ), utiliza uma solução especial que circula pelo órgão fora do corpo, realizando uma espécie de “limpeza molecular”. Em apenas duas horas, as enzimas removem os antígenos que causariam rejeição. Esse processo oferece diversas vantagens para o sistema de saúde:

  • Amplia a compatibilidade entre doadores e receptores;
  • Diminui o tempo de espera nas listas de transplante;
  • Permite o aproveitamento de mais órgãos doados.

Perspectivas para o futuro

Cerca de metade dos pacientes que aguardam um transplante têm tipo sanguíneo O, o que limita drasticamente as chances de encontrar um doador compatível. Se aplicada em larga escala, a conversão enzimática poderá multiplicar as possibilidades de transplante, reduzindo desigualdades e salvando inúmeras vidas.

Ainda em fase experimental, a técnica pode futuramente ser adaptada para outros órgãos vitais, como pulmões, fígados e corações. A expectativa é que, com novas melhorias, os órgãos universais deixem de ser uma promessa distante e passem a fazer parte da prática clínica cotidiana.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *