Telescópio do Atacama encerra missão e desafia compreensão do Universo atual

Telescópio do Atacama reforça tensão de Hubble no Universo (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Telescópio do Atacama reforça tensão de Hubble no Universo (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Após quase duas décadas de observações, o Telescópio Cosmológico do Atacama (ACT) concluiu sua missão no deserto chileno, liberando os dados finais que prometem redefinir a forma como entendemos o Universo. Publicados em três artigos no Journal of Cosmology and Astroparticle Physics (JCAP), os resultados não apenas confirmam medições anteriores, mas também reforçam a chamada “tensão de Hubble”, aprofundando o mistério sobre a expansão cósmica. Entre os principais destaques dos novos dados do ACT estão:

  • Confirmação da discrepância entre medidas da expansão do Universo feitas local e remotamente;
  • Validação dos mapas de temperatura e polarização da Radiação Cósmica de Fundo (RCF);
  • Descartes de aproximadamente 30 modelos alternativos de explicação cosmológica;
  • Maior resolução de polarização graças ao espelho de seis metros do telescópio;
  • Complementação das observações globais do satélite Planck, trazendo nitidez inédita.

Esses resultados não encerram a investigação, mas abrem caminho para compreender melhor os fenômenos que desafiam o modelo ΛCDM, responsável por descrever a energia escura e a matéria escura fria no cosmos.

Tensão de Hubble: o “velocímetro” do Universo em alerta

A constante de Hubble é um parâmetro central para medir a taxa de expansão do Universo. No entanto, diferentes métodos de observação produzem valores conflitantes: enquanto a análise da luz mais antiga do cosmos indica uma taxa específica, medições de galáxias próximas apontam outra.

O ACT reforça que essa discrepância não é estatística, mas sim um indício de que nosso modelo cosmológico apresenta lacunas importantes. Ao descartar modelos teóricos alternativos, a missão filtra hipóteses, permitindo que cientistas concentrem esforços em explicações mais robustas.

Polarização da RCF: a nova lente do cosmos

Novos dados do ACT revelam segredos da expansão cósmica (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Novos dados do ACT revelam segredos da expansão cósmica (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Localizado a 5 km de altitude no Deserto do Atacama, o ACT focou na Radiação Cósmica de Fundo, conhecida como “luz fóssil” do Universo, originada cerca de 380 mil anos após o Big Bang. Diferente do Planck, que mapeou principalmente a temperatura dessa radiação, o telescópio chileno adicionou polarização, mostrando a direção das oscilações do campo eletromagnético. Essa abordagem fornece insights inéditos sobre:

  • A dinâmica da energia escura e da matéria escura;
  • Possíveis novas partículas no início do Universo;
  • Estruturas cósmicas primordiais com resolução sem precedentes.

Combinados, os dados do Planck e do ACT criam uma visão composta do cosmos: abrangência global e nitidez cirúrgica, essenciais para avançar na cosmologia.

O legado do ACT e os próximos desafios

O encerramento da missão não significa o fim da investigação científica. Pelo contrário, os dados finais (DR6) funcionam como um ponto de partida crucial para explorar teorias sobre o Universo de maneira mais assertiva.

Ao reduzir o número de hipóteses, o ACT ajuda a comunidade científica a focar nas questões mais fundamentais, deixando claro que a física do cosmos ainda guarda segredos significativos. O quebra-cabeça cosmológico permanece, mas agora com peças mais nítidas e confiáveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.