Sintoma raro na gestação intriga especialistas e desafia rotina de gestantes

Sialorreia é benigna, mas pode exigir acompanhamento médico. (Foto: TrueCreatives via Canva)
Sialorreia é benigna, mas pode exigir acompanhamento médico. (Foto: TrueCreatives via Canva)

A gestação desencadeia uma série de transformações fisiológicas capazes de modificar profundamente o funcionamento do organismo. Entre essas alterações, existe um sintoma pouco comentado, mas altamente desconfortável para algumas mulheres: a sialorreia gestacional, caracterizada pela produção excessiva de saliva em um curto período. 

Embora rara, essa condição pode surgir de forma súbita e causar impacto significativo na rotina, especialmente durante o primeiro trimestre, quando muitas gestantes já lidam com náuseas e alterações digestivas. 

A combinação de salivação intensa, dificuldade de engolir e hipersensibilidade gástrica torna o quadro ainda mais desafiador, exigindo atenção clínica e estratégias específicas para alívio.

Por que a produção de saliva aumenta tanto?

A sialorreia, também chamada de ptialismo gravídico, resulta de uma alteração nos mecanismos responsáveis por regular a eliminação da saliva. Embora sua origem exata ainda seja desconhecida, pesquisas sugerem que o fenômeno pode estar associado ao aumento de beta-hCG, flutuações de estrogênio, alterações neurológicas e fatores psicológicos que se intensificam durante as primeiras semanas de gestação. 

Em quadros mais severos, a salivação pode ultrapassar 2 litros por dia, um volume muito acima do fisiológico, e geralmente acompanha episódios de náusea, vômitos e hiperêmese.

Como identificar um sintoma que passa despercebido

Evitar cítricos e gengibre ajuda a controlar a salivação. (Foto: Getty Images via Canva)
Evitar cítricos e gengibre ajuda a controlar a salivação. (Foto: Getty Images via Canva)

Por ser um fenômeno pouco divulgado, muitas gestantes não reconhecem de imediato que a salivação contínua e a sensação de boca sempre cheia fazem parte de um quadro clínico específico. Sinais como:
aumento súbito da saliva
• dificuldade de engolir a secreção
• piora significativa das náuseas ao tentar engolir
• necessidade de cuspir frequentemente
costumam indicar o início do ptialismo.

Em alguns casos, o sintoma persiste além do primeiro trimestre, embora seja mais intenso nas fases iniciais da gravidez.

Impactos na rotina e no bem-estar emocional

A salivação excessiva interfere não apenas no conforto físico, mas também em hábitos diários, como trabalho, alimentação e sono. O acúmulo de saliva durante a noite, por exemplo, leva muitas mulheres a despertarem com a sensação de boca cheia ou travesseiro úmido. 

Esse desconforto prolongado pode gerar cansaço emocional, retração social e sensação de perda de controle sobre o próprio corpo.

Estratégias seguras para aliviar a sialorreia

Embora não exista um medicamento específico aprovado para uso na gestação, alguns cuidados ajudam a reduzir a sensação de salivação excessiva:
mascar chicletes sem açúcar
• usar balas de menta ou limão sem açúcar
evitar alimentos muito ácidos, frituras e pratos condimentados
• preferir refeições leves e fracionadas
• utilizar gengibre em pequenas quantidades
• apostar em acupuntura para alívio associado à náusea

Quando o quadro aparece junto à hiperêmese gravídica, algumas gestantes podem necessitar de hidratação intravenosa e reposição de eletrólitos para evitar complicações.

Quando buscar acompanhamento

Apesar de ser considerada uma condição benigna, a sialorreia requer avaliação médica sempre que a produção de saliva prejudica a alimentação, o sono ou a hidratação. 

O acompanhamento ajuda a diferenciar o quadro de outras alterações orais e garante que a gestante receba orientações adequadas para atravessar essa fase com mais conforto.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.