Rins podem ser a porta de entrada do Parkinson, aponta estudo

Rins e origem do Parkinson
Estudo sugere que a doença pode começar fora do cérebro, abrindo novas chances de diagnóstico precoce. (Foto: Getty Images / Canva Pro)

A Doença de Parkinson é conhecida como uma condição neurológica que compromete o controle motor. Porém, uma nova linha de pesquisa propõe que o processo degenerativo pode começar nos rins, muito antes de os sintomas clássicos surgirem. 

O estudo, conduzido pela Universidade de Wuhan e divulgado na Nature Neuroscience, levanta a hipótese de que esse órgão seja um dos primeiros alvos da proteína ligada à doença.

Origem fora do sistema nervoso central

Até hoje, o Parkinson era investigado quase exclusivamente a partir do cérebro. Os resultados atuais, no entanto, indicam que órgãos periféricos podem participar do início da patologia. 

Se confirmada, essa mudança de perspectiva poderá revolucionar a forma como a medicina encara o diagnóstico e o tratamento precoce da condição.

A participação da alfa-sinucleína

Rins e origem do Parkinson
Pesquisadores identificam depósitos de proteína nos rins que podem anteceder o Parkinson. (Foto: Photo Library / Canva Pro)

O trabalho chama atenção para a alfa-sinucleína (α-Syn), proteína que, quando se acumula em excesso, forma os conhecidos corpos de Lewy, responsáveis por danificar neurônios. 

Pela primeira vez, esse mesmo padrão foi observado nos rins: em pacientes com Parkinson, mas também em pessoas com doença renal crônica que não apresentavam sintomas neurológicos. Isso reforça a ideia de que os rins podem atuar como porta de entrada para a progressão da enfermidade.

Evidências em modelos animais

Nos experimentos realizados com camundongos, a introdução da alfa-sinucleína nos rins levou à propagação da proteína até o cérebro. Quando a comunicação nervosa entre esses órgãos foi bloqueada, o avanço deixou de ocorrer, fortalecendo a hipótese de que há uma ligação direta entre rim e sistema nervoso central.

Perspectivas para a prática clínica

Se novos estudos confirmarem esses resultados, será possível pensar em estratégias como:

  • Exames de rastreamento para detectar a proteína em estágios iniciais;
  • Intervenções terapêuticas que interrompam a propagação antes de atingir os neurônios cerebrais;
  • Monitoramento de indivíduos com doenças renais crônicas como grupo de risco para Parkinson.

Avanço ainda em fase inicial

Os pesquisadores ressaltam que o trabalho é preliminar e precisa ser ampliado. Ainda assim, soma-se a outras descobertas que sugerem que o Parkinson pode se iniciar em órgãos como o intestino ou o apêndice antes de comprometer o cérebro.

Parte do grupo das doenças de corpos de Lewy, o Parkinson atinge milhões de pessoas em todo o mundo e deve se tornar ainda mais prevalente com o envelhecimento populacional. 

Mapear seus primeiros sinais fora do cérebro pode ser decisivo para transformar o futuro do diagnóstico e do tratamento.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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