Por que dormir oito horas seguidas não é tão natural assim?

Luz artificial alterou nosso ritmo natural de descanso. (Foto: Getty Images via Canva)
Luz artificial alterou nosso ritmo natural de descanso. (Foto: Getty Images via Canva)

Durante grande parte da história, o sono contínuo de oito horas era raro. Antes da iluminação artificial se popularizar, os seres humanos dormiam em dois períodos, conhecidos como “primeiro sono” e “segundo sono”, separados por um intervalo de vigília de cerca de uma hora. Durante essa pausa, as pessoas realizavam atividades práticas, sociais ou de lazer, tornando a noite mais produtiva e percebida de forma menos contínua.

Pesquisas históricas e literárias, incluindo registros de Homero e Virgílio, indicam que essa prática era comum em várias culturas ao redor do mundo, desde a Europa até a Ásia e a África.

O impacto da vida moderna

O sono fragmentado começou a desaparecer com a introdução da iluminação artificial, primeiro a óleo, depois a gás e, finalmente, a luz elétrica. Essa mudança permitiu que as pessoas permanecessem acordadas até mais tarde, alterando o ritmo circadiano e diminuindo a tendência natural de acordar no meio da noite.

A Revolução Industrial também contribuiu para a padronização do sono, com horários rígidos de trabalho incentivando longos períodos contínuos de descanso. Hoje, o conceito de “uma noite completa” de sono é visto como norma, embora nosso cérebro ainda esteja biologicamente preparado para despertares curtos durante a madrugada.

Benefícios do sono em duas etapas

Despertares noturnos podem ser normais e saudáveis. (Foto: Prostock-studio via Canva)
Despertares noturnos podem ser normais e saudáveis. (Foto: Prostock-studio via Canva)

Estudos de comunidades sem eletricidade e de experimentos em ambientes isolados demonstram que dividir a noite em dois períodos pode ser natural para os humanos. Alguns dos efeitos positivos incluem:

  • Redução da percepção de monotonia em noites longas.
  • Momento para relaxamento mental, oração ou reflexão.
  • Oportunidade para pequenas tarefas domésticas ou cuidado com animais.
  • Espaço para socialização tranquila ou intimidade entre casais.

Além disso, acordar brevemente durante a noite não indica insônia, mas pode ser um resquício do padrão evolutivo do sono.

Como lidar com despertares noturnos

Se acordar à meia-noite causa ansiedade ou frustração, algumas estratégias podem ajudar:

  • Evite luz intensa: use iluminação fraca para atividades breves.
  • Faça algo relaxante: ler ou ouvir música suave ajuda a voltar a dormir.
  • Não fixe o olhar no relógio: medir o tempo aumenta a percepção de insônia.
  • Mantenha uma rotina regular: horários consistentes fortalecem o ritmo circadiano.

Terapias comportamentais, como a TCC-I (terapia cognitivo-comportamental para insônia), indicam que aceitar a vigília momentânea e permanecer calmo é a forma mais saudável de retomar o sono.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.