Por que as telas são tão viciantes e como proteger sua mente

Telas afetam atenção e concentração diariamente. (Foto: Tirachard Kumtanom via Canva)
Telas afetam atenção e concentração diariamente. (Foto: Tirachard Kumtanom via Canva)

Vivemos em uma era em que a atenção se tornou um dos recursos mais valiosos. A todo momento, somos convidados a olhar notificações, assistir vídeos curtos ou percorrer infinitamente o feed das redes sociais. 

Porém, ainda que as telas façam parte da rotina de trabalho, estudo e lazer, o uso excessivo pode trazer impactos importantes para o corpo e para o cérebro.

Por que é tão difícil “desligar”?

As redes sociais e aplicativos são desenvolvidos para estimular áreas cerebrais relacionadas à recompensa, especialmente o núcleo accumbens, estrutura envolvida na liberação de dopamina. Esse neurotransmissor não está ligado apenas ao prazer, mas principalmente ao desejo.

Em outras palavras: cada rolagem de feed promete uma pequena chance de encontrar algo que recompense, seja uma mensagem, novidade ou conteúdo interessante. É esse “talvez agora venha algo bom” que mantém as pessoas conectadas por longos períodos.

Com o tempo, porém, o cérebro se acostuma ao estímulo constante, exigindo exposições mais longas para sentir o mesmo nível de satisfação. Daí surgem comportamentos como:

  • Checar o celular automaticamente
  • Dificuldade de focar em tarefas longas
  • Sensação de inquietação quando se está offline

Quanto tempo estamos passando nas telas?

Redes sociais liberam dopamina e criam vício. (Foto: Pexels via Canva)
Redes sociais liberam dopamina e criam vício. (Foto: Pexels via Canva)

Pesquisas recentes mostram que o brasileiro passa mais de nove horas por dia diante de telas, entre celular, televisão e computador. Cerca de quatro horas desse tempo vão diretamente para as redes sociais.

Não por acaso, muitas pessoas relatam:

  • Ansiedade
  • Cansaço mental
  • Sensação de culpa após longos períodos online
  • Dificuldade de concentração
  • Redução do interesse por atividades fora do digital

Essa dinâmica contribui para um ciclo de sedentarismo, piora do sono e queda da qualidade de vida.

O papel da inteligência artificial nessa história

Com a expansão da IA generativa, outra mudança vem acontecendo: a tendência de delegar tarefas de raciocínio para ferramentas automáticas. Estudos indicam que, quando deixamos a máquina pensar por nós, o cérebro engaja menos e forma menos conexões neurais.

Isso pode favorecer uma mente mais dependente, distraída e menos treinada para o esforço cognitivo.

Caminhos para um uso mais saudável

Não se trata de abandonar o digital, mas de reaprender a equilibrar. Algumas estratégias incluem:

  • Definir horários claros para uso do celular
  • Silenciar notificações não essenciais
  • Criar momentos diários sem telas
  • Praticar atividades que envolvam corpo e presença, como caminhada, esportes ou hobbies manuais
  • Priorizar interações presenciais, que fortalecem vínculos e reduzem estresse

Conecte-se mais com o que é real

O convite é simples: direcionar atenção para aquilo que nutre e revigora. Conversas olho no olho, contato com a natureza, leitura calma, descanso de qualidade, esses são estímulos que ajudam o cérebro a recuperar o foco e o equilíbrio.

A questão não é excluir as telas, mas retomar o controle sobre elas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.