Plantas criam remédios poderosos apenas com luz solar e ar, diz estudo

Plantas transformam luz solar em remédios potentes. (Foto: Imagem gerada por IA via Canva)
Plantas transformam luz solar em remédios potentes. (Foto: Imagem gerada por IA via Canva)

As plantas são verdadeiras fábricas naturais de compostos químicos complexos. Com a ajuda da luz solar, do ar e de processos biológicos sofisticados, elas produzem substâncias com alto potencial terapêutico, algumas das quais já inspiraram medicamentos modernos. Agora, um novo estudo publicado na revista Nature Chemical Biology mostra que estamos apenas começando a compreender o tamanho desse potencial.

A nova fronteira dos medicamentos naturais

Pesquisadores do John Innes Centre, no Reino Unido, mapearam centenas de espécies vegetais em busca de genes responsáveis pela produção de moléculas chamadas triterpenos, compostos naturais que desempenham funções de defesa nas plantas e que também possuem propriedades medicinais importantes.

Essas moléculas estão por trás de substâncias como:

  • Escina, extraída da castanha-da-índia, com efeito anti-inflamatório;
  • QS-21, derivada da saponária chilena, usada como adjuvante em vacinas;
  • Compostos do Neem, conhecidos por suas propriedades antimicrobianas e inseticidas.

De acordo com os cientistas, o segredo está nas enzimas oxidosqualeno ciclases (OSCs), que transformam uma única molécula base em milhares de estruturas químicas diferentes, uma espécie de “origami molecular” natural.

Inteligência artificial e biotecnologia revelam segredos ocultos

Natureza inspira avanços na biotecnologia. (Foto: Imagem gerada por IA via Canva)
Natureza inspira avanços na biotecnologia. (Foto: Imagem gerada por IA via Canva)

Utilizando dados genômicos de quase 400 espécies vegetais, os pesquisadores rastrearam mais de 1.400 genes ligados à produção dessas enzimas. Com o apoio de técnicas de biologia molecular e inteligência artificial, eles conseguiram identificar 20 genes promissores e reproduzir sua atividade em laboratório.

O resultado foi surpreendente: as plantas modificadas produziram novas substâncias químicas, até então desconhecidas, que podem servir como base para novos medicamentos e produtos naturais. Esse avanço representa uma revolução, pois permite criar compostos bioativos sem precisar extrair grandes quantidades de material vegetal da natureza.

A química verde do futuro

Segundo o estudo, essa abordagem inaugura uma era em que a biotecnologia vegetal pode substituir processos químicos caros e poluentes. Em vez de sintetizar remédios em laboratórios com reagentes tóxicos, os cientistas agora conseguem usar as próprias plantas como biorreatores vivos, que produzem substâncias complexas apenas com luz solar, água e dióxido de carbono.

Essa técnica também acelera a descoberta de novos fármacos, reduz custos de produção e oferece uma alternativa mais sustentável para a indústria farmacêutica.

Apenas o começo

Os autores do estudo destacam que existem mais de 450 mil espécies de plantas conhecidas, e apenas uma fração mínima de seus genomas foi explorada até agora. Cada uma delas pode esconder compostos com potencial para tratar doenças inflamatórias, infecciosas e até mesmo o câncer.

Nos próximos anos, o grupo pretende ampliar a pesquisa em parceria com empresas da área médica e farmacêutica, buscando novos triterpenos bioativos e enzimas inéditas capazes de gerar medicamentos inovadores.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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