Pesquisadores encontram pista cerebral para tratar depressão resistente

Estímulo cerebral reorganiza circuitos ligados ao humor. (Foto: Pexels via Canva)
Estímulo cerebral reorganiza circuitos ligados ao humor. (Foto: Pexels via Canva)

A compreensão da depressão resistente sempre foi um dos maiores desafios da psiquiatria moderna. No entanto, novos avanços começam a redesenhar esse cenário. 

Um estudo publicado na Nature Communications trouxe um achado promissor: um padrão elétrico específico no cérebro capaz de prever quem responde melhor à estimulação cerebral profunda, técnica utilizada em pacientes com depressão grave sem melhora com tratamentos convencionais.

Um marco na busca por abordagens mais precisas

A estimulação cerebral profunda utiliza eletrodos implantados em regiões profundas do cérebro para modular circuitos associados ao humor, estresse e motivação. O estudo analisou 26 pessoas com depressão resistente e observou que cerca de metade demonstrou melhora significativa ao longo de um ano de acompanhamento.

Entretanto, o ponto decisivo foi a identificação de um biomarcador neural no núcleo do leito da estria terminal, área envolvida no processamento do estresse. Antes da intervenção, pacientes que apresentavam menor atividade elétrica na faixa teta (4 a 8 Hz) mostraram maior probabilidade de responder positivamente ao tratamento.

Como o cérebro revela sua resposta ao tratamento

Biomarcador cerebral ajuda a direcionar tratamentos eficazes. (Foto: Pexels via Canva)
Biomarcador cerebral ajuda a direcionar tratamentos eficazes. (Foto: Pexels via Canva)

A equipe combinou diversas ferramentas de investigação para construir um panorama completo da atividade cerebral, incluindo exames de imagem, registros intracranianos e modelos computacionais. A partir disso, observaram que:

  • A faixa teta reduzida no BNST se associava a maior chance de melhora.
  • Durante a estimulação, quedas ainda maiores nessa frequência acompanhavam reduções nos sintomas.
  • A comunicação entre o BNST e o córtex pré-frontal parecia formar um circuito-chave para a recuperação emocional.

Esse tipo de descoberta abre caminho para conduzir terapias baseadas em perfil elétrico individual, tornando o tratamento mais eficiente e personalizado.

Aplicações que podem transformar o futuro da psiquiatria

Com esse marcador, pesquisadores sugerem que a estimulação cerebral profunda poderá se tornar adaptativa, ajustando automaticamente a intensidade do estímulo conforme o cérebro sinaliza sua resposta. Isso reduz riscos, aumenta a precisão e evita intervenções desnecessárias.

Além disso, o modelo proposto pelo estudo amplia a possibilidade de:

  • entender por que certos pacientes não respondem a antidepressivos;
  • identificar circuitos cerebrais envolvidos na melhora clínica;
  • orientar protocolos mais assertivos para casos graves;
  • reduzir tentativas frustradas de tratamento e oferecer estratégias mais rápidas para aliviar o sofrimento.

Embora os resultados sejam promissores, os autores reforçam a necessidade de estudos mais amplos para confirmar as conclusões e expandir seu uso clínico.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.