A diversidade de tubarões e raias, dois dos grupos mais antigos e resilientes do planeta, está em queda contínua há milhões de anos e novas evidências paleontológicas mostram que essa tendência começou muito antes da ação humana. Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Viena, publicado na Scientific Reports, revela que o declínio dessas espécies teve início no Eoceno, cerca de 45 milhões de anos atrás, contrariando a visão de que sua diversidade permanecia estável desde a grande expansão evolutiva após a extinção dos dinossauros.
Esse novo panorama evolutivo traz elementos essenciais para compreender a atual crise marinha. Entre os pontos mais importantes do estudo estão:
- Declínio iniciado há 45 milhões de anos, contrariando hipóteses anteriores;
- Biodiversidade máxima no Eoceno, durante clima global mais quente;
- Extinção dos dinossauros pouco impactou tubarões e raias;
- Habitat raso como motor evolutivo, agora altamente ameaçado;
- CO₂ moderado como aliado, enquanto níveis altos prejudicam ecossistemas.
Uma trajetória evolutiva moldada por clima e habitat
Ao comparar um vasto registro fóssil com dados ambientais históricos, os pesquisadores identificaram que a maior parte da diversidade desses peixes cartilaginosos dependia de ambientes costeiros rasos, ricos em alimento e estrutura. Sempre que esses habitats se expandiam, surgiam novas linhagens. Entretanto, à medida que esses ambientes diminuíram ao longo dos milhões de anos, acompanhando mudanças climáticas naturais e alterações nos oceanos, a diversidade global também caiu.

Esse padrão ajuda a explicar por que, apesar de terem sobrevivido a eventos catastróficos, como o impacto do asteroide que extinguiu os grandes dinossauros, tubarões e raias mantiveram uma trajetória evolutiva surpreendentemente estável, até o declínio que começou no Eoceno.
Papel do CO₂: aliado no passado, ameaça no presente
Um aspecto particularmente interessante do estudo é a relação entre diversidade e níveis moderados de dióxido de carbono. Em épocas com CO₂ elevado o suficiente para estimular a produtividade de algas e pradarias marinhas, a cadeia alimentar se fortalecia e favorecia o surgimento de novos predadores. Contudo, níveis excessivamente altos tinham o efeito oposto, comprometendo a saúde dos ecossistemas oceânicos.
Esse equilíbrio delicado mostra por que o cenário atual é tão preocupante: o CO₂ atmosférico cresce em um ritmo sem precedentes, promovendo acidificação oceânica e rompendo processos ecológicos que sustentaram esses animais por milhões de anos.
Por que o presente é mais perigoso do que qualquer crise passada
Apesar da impressionante resiliência evolutiva dos tubarões e raias, o estudo reforça que o desafio moderno é radicalmente diferente. A combinação de sobrepesca, destruição de habitats costeiros e mudanças climáticas aceleradas impede que muitas espécies consigam se adaptar ou migrar para áreas adequadas. Isso é especialmente crítico para grupos especializados, como espécies de águas profundas, que dependem de ambientes estáveis e frios.
Diante disso, os autores do estudo argumentam que estratégias de conservação precisam ir além do controle pesqueiro. A prioridade deve ser proteger e restaurar habitats costeiros diversos, além de mitigar emissões de CO₂ para reduzir o impacto direto sobre os oceanos.
Essas descobertas reafirmam que compreender o passado evolutivo é fundamental para garantir o futuro da vida marinha, e que a janela de ação para impedir novas perdas pode ser mais curta do que imaginamos.

