Pesquisadores descobrem ligação entre estresse oxidativo, cérebro autista e TOC

Oxidação excessiva pode alterar o comportamento. (Foto: Getty Images via Canva)
Oxidação excessiva pode alterar o comportamento. (Foto: Getty Images via Canva)

Um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford descobriu que o estresse oxidativo, um tipo de desgaste celular causado pelo desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes, pode estar relacionado a comportamentos repetitivos, característicos de distúrbios como o autismo e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

A equipe observou que quando as células cerebrais sofrem com excesso de oxidação, o cérebro passa a reagir de maneira diferente, o que pode levar à repetição de gestos, padrões de fala e ações automáticas.

O que acontece com o corpo sob estresse oxidativo

O estresse oxidativo surge quando o corpo produz mais radicais livres do que consegue neutralizar. Esses compostos danificam estruturas celulares e comprometem o funcionamento de tecidos, inclusive os neurônios.

Nos experimentos com camundongos, os cientistas perceberam que aqueles com níveis mais altos de estresse oxidativo apresentavam comportamentos repetitivos mais intensos, sugerindo uma relação direta entre desequilíbrio químico e comportamento.

Biomarcadores revelam novas pistas

Biomarcadores revelam pistas sobre o autismo e TOC. (Foto: Science Photo via Canva)
Biomarcadores revelam pistas sobre o autismo e TOC. (Foto: Science Photo via Canva)

Durante as análises, os pesquisadores encontraram proteínas e antioxidantes que atuam como biomarcadores desse processo. Entre eles, destaca-se a glutationa, uma molécula essencial para proteger as células do dano oxidativo.

Camundongos com níveis reduzidos de glutationa e aumento de proteínas associadas à oxidação mostraram maior tendência a comportamentos repetitivos. Esses resultados indicam que o sistema antioxidante do cérebro pode ter papel fundamental na regulação das emoções e dos impulsos.

Conexão com distúrbios humanos

A semelhança entre os resultados observados em camundongos e os dados humanos sugere que os mesmos mecanismos podem ocorrer em pessoas com TEA, TOC e esquizofrenia. Em todos esses casos, há indícios de estresse oxidativo elevado e alterações na sinalização neural.

Com base nessas descobertas, os cientistas acreditam que avaliar biomarcadores de estresse oxidativo no sangue pode ajudar na detecção precoce de distúrbios neuropsiquiátricos e, no futuro, orientar tratamentos que restaurem o equilíbrio antioxidante do organismo.

O que os cientistas planejam investigar

Os autores do estudo, publicado na revista PLOS One, ressaltam que ainda é cedo para afirmar que o estresse oxidativo causa diretamente os comportamentos repetitivos. Mesmo assim, a pesquisa abre um novo caminho para entender a relação entre saúde celular e funcionamento cerebral.

A próxima etapa será testar se terapias antioxidantes, como suplementação controlada, podem reduzir os sintomas ou prevenir a progressão de distúrbios associados.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.