Pesquisadores brasileiros criam sensor que identifica substância cancerígena em bebidas

Inovação transforma cortiça em aliado da segurança alimentar. (Foto: Getty Images via Canva)
Inovação transforma cortiça em aliado da segurança alimentar. (Foto: Getty Images via Canva)

Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu uma tecnologia sustentável e de baixo custo capaz de identificar nitrito de sódio (NaNO₂) em amostras de água, vinho e suco de laranja. O composto, frequentemente usado para conservar carnes processadas, é proibido em bebidas e pode se transformar em substâncias potencialmente cancerígenas quando presente em níveis inadequados.

O estudo, conduzido por cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foi publicado na revista científica Microchimica Acta e marca um importante avanço na segurança alimentar e ambiental.

Como o dispositivo funciona

Dispositivo detecta nitrito em água, vinho e suco. (Foto: Getty Images via Canva)
Dispositivo detecta nitrito em água, vinho e suco. (Foto: Getty Images via Canva)

O diferencial da pesquisa está na escolha da cortiça, material natural das rolhas de vinho, como base para a criação do sensor. A equipe utilizou feixes de laser para modificar a superfície da cortiça, transformando-a em grafeno, uma forma de carbono altamente condutora de eletricidade.

Esse processo inovador apresenta múltiplas vantagens:

  • É ecológico, pois dispensa o uso de reagentes químicos tóxicos;
  • Gera um sensor eficiente e sensível à presença de nitrito;
  • Pode ser produzido com baixo custo, o que facilita sua aplicação em larga escala.

Após a formação do grafeno, os cientistas aplicaram um revestimento à prova d’água e utilizaram esmalte comum para delimitar a área de leitura do sensor. O dispositivo foi então aquecido a 40 °C por 30 minutos para aprimorar sua estabilidade e desempenho.

Resultados promissores em testes

Nos experimentos, o sensor foi exposto a amostras de bebidas simuladas com nitrito, e o desempenho foi considerado altamente satisfatório. Ele foi capaz de detectar concentrações mínimas do aditivo, garantindo uma resposta rápida e precisa, ponto essencial para o monitoramento da segurança alimentar.

Além disso, a tecnologia é versátil e pode ser adaptada para detectar outros contaminantes em alimentos e líquidos. A equipe agora trabalha na validação laboratorial e na melhoria do design do sensor, para que ele possa futuramente ser utilizado de forma prática em inspeções e testes industriais.

Contribuição para saúde e sustentabilidade

O desenvolvimento do dispositivo vai além da inovação tecnológica, representando um avanço significativo na proteção da saúde dos consumidores. O nitrito de sódio, quando consumido em quantidades elevadas, pode interagir com componentes do organismo e gerar nitrosaminas, substâncias com potencial cancerígeno.

Ao unir pesquisa científica, sustentabilidade e segurança alimentar, a iniciativa evidencia a capacidade da ciência brasileira de criar soluções eficazes, acessíveis e ambientalmente responsáveis, destacando o papel da inovação para promover um futuro mais seguro e saudável.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.