Pesquisa mostra que vida em grupo protege mamíferos contra tumores

Mamíferos sociais têm menos câncer graças à cooperação entre eles (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Mamíferos sociais têm menos câncer graças à cooperação entre eles (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Nem todos os mamíferos enfrentam o câncer da mesma forma. Algumas espécies, como o rato-toupeira-pelado e os elefantes, possuem uma grande resistência à doença, enquanto outras apresentam altos índices de tumores malignos com a idade. Um estudo recente publicado na Science Advances sugere que o modo de vida, particularmente a cooperação social, desempenha papel fundamental nessa diferença.

Os pesquisadores cruzaram dados sobre comportamento social, tamanho das ninhadas e incidência de câncer em dezenas de mamíferos. Eles descobriram padrões claros: espécies que vivem isoladas, competem ferozmente por recursos e produzem muitas crias, apresentando maior risco de câncer. Já animais que vivem em grupos, cuidam uns dos outros e investem menos em descendentes, apresentam taxas significativamente menores da doença. Principais conclusões do estudo:

  • Espécies solitárias e competitivas têm maior prevalência de câncer;
  • Animais cooperativos apresentam risco menor, mesmo entre carnívoros;
  • Indivíduos mais velhos ajudam na sobrevivência e cuidado dos filhotes;
  • O câncer pode favorecer reprodução de jovens em espécies competitivas;
  • Comportamentos cooperativos fornecem insights para prevenção humana.

O Efeito Hidra: quando a morte beneficia a população

Para explicar essa diferença, os pesquisadores usaram um modelo baseado no Efeito Hidra, fenômeno em que a morte de indivíduos mais velhos pode aumentar a sobrevivência e reprodução dos jovens.

Vida em grupo protege animais contra tumores, revela estudo científico (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Vida em grupo protege animais contra tumores, revela estudo científico (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Em espécies competitivas, membros mais velhos consomem recursos sem contribuir para a reprodução. Quando morrem, liberam alimento e espaço para os jovens férteis, aumentando o crescimento populacional. Assim, o câncer funciona como mecanismo evolutivo de renovação, eliminando indivíduos que já não se reproduzem ativamente.

Já em espécies cooperativas, indivíduos mais velhos desempenham papéis essenciais: protegem o grupo, cuidam dos filhotes e garantem a coesão social. Nesses casos, a morte precoce reduziria a sobrevivência da próxima geração, o que explica a evolução de mecanismos naturais de resistência ao câncer.

Implicações para a saúde humana

Compreender como cooperação social e cuidado mútuo reduzem o risco de câncer em mamíferos oferece novas pistas para prevenção e envelhecimento saudável em humanos. Isso inclui explorar fatores celulares, comportamentais e sociais que promovam longevidade e proteção contra tumores.

O estudo sugere que a resistência ao câncer não depende apenas de predisposição genética, mas também do estilo de vida e das interações sociais, integrando biologia evolutiva, comportamento animal e medicina preventiva.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.