Nem todos os mamíferos enfrentam o câncer da mesma forma. Algumas espécies, como o rato-toupeira-pelado e os elefantes, possuem uma grande resistência à doença, enquanto outras apresentam altos índices de tumores malignos com a idade. Um estudo recente publicado na Science Advances sugere que o modo de vida, particularmente a cooperação social, desempenha papel fundamental nessa diferença.
Os pesquisadores cruzaram dados sobre comportamento social, tamanho das ninhadas e incidência de câncer em dezenas de mamíferos. Eles descobriram padrões claros: espécies que vivem isoladas, competem ferozmente por recursos e produzem muitas crias, apresentando maior risco de câncer. Já animais que vivem em grupos, cuidam uns dos outros e investem menos em descendentes, apresentam taxas significativamente menores da doença. Principais conclusões do estudo:
- Espécies solitárias e competitivas têm maior prevalência de câncer;
- Animais cooperativos apresentam risco menor, mesmo entre carnívoros;
- Indivíduos mais velhos ajudam na sobrevivência e cuidado dos filhotes;
- O câncer pode favorecer reprodução de jovens em espécies competitivas;
- Comportamentos cooperativos fornecem insights para prevenção humana.
O Efeito Hidra: quando a morte beneficia a população
Para explicar essa diferença, os pesquisadores usaram um modelo baseado no Efeito Hidra, fenômeno em que a morte de indivíduos mais velhos pode aumentar a sobrevivência e reprodução dos jovens.

Em espécies competitivas, membros mais velhos consomem recursos sem contribuir para a reprodução. Quando morrem, liberam alimento e espaço para os jovens férteis, aumentando o crescimento populacional. Assim, o câncer funciona como mecanismo evolutivo de renovação, eliminando indivíduos que já não se reproduzem ativamente.
Já em espécies cooperativas, indivíduos mais velhos desempenham papéis essenciais: protegem o grupo, cuidam dos filhotes e garantem a coesão social. Nesses casos, a morte precoce reduziria a sobrevivência da próxima geração, o que explica a evolução de mecanismos naturais de resistência ao câncer.
Implicações para a saúde humana
Compreender como cooperação social e cuidado mútuo reduzem o risco de câncer em mamíferos oferece novas pistas para prevenção e envelhecimento saudável em humanos. Isso inclui explorar fatores celulares, comportamentais e sociais que promovam longevidade e proteção contra tumores.
O estudo sugere que a resistência ao câncer não depende apenas de predisposição genética, mas também do estilo de vida e das interações sociais, integrando biologia evolutiva, comportamento animal e medicina preventiva.

