A paisagem árida da cratera Jezero ganhou um novo protagonista: Phippsaksla, um meteorito de ferro-níquel identificado pelo rover Perseverance após quase cinco anos de exploração contínua. A descoberta surpreende porque, mesmo em uma região conhecida pela abundância de impactos, nenhuma rocha espacial havia sido confirmada até agora pelo veículo. Além disso, a morfologia singular do objeto, esculpida como se tivesse resistido a milênios de intempéries, imediatamente chamou atenção.
Logo após a observação inicial, o meteorito se tornou prioridade científica. Ele reúne características que reforçam seu valor para a missão, como:
- Composição metálica rara, típica de núcleos de antigos asteroides;
- Dimensões expressivas, com quase 80 centímetros;
- Contraste marcante com o solo fragmentado que domina a borda da cratera;
- Possível origem nos primórdios do Sistema Solar.
Um fragmento primordial em meio ao delta fossilizado
A análise espectroscópica confirmou a predominância de ferro e níquel, sugerindo que o meteorito é um remanescente de corpos celestes formados há mais de 4,5 bilhões de anos. Esse tipo de rocha metálica geralmente se origina de asteroides diferenciados, indicando que Phippsaksla pode carregar pistas sobre processos que moldaram tanto Marte quanto a própria Terra.

Para os pesquisadores, o achado ajuda a entender a distribuição desses fragmentos na superfície marciana. Embora missões anteriores, como Spirit, Opportunity e Curiosity, já tivessem localizado meteoritos semelhantes, a ausência de descobertas anteriores em Jezero intrigava os cientistas, especialmente devido à idade geológica do terreno.
Por que isso importa para a busca por vida antiga?
Mesmo não sendo o foco primário do Perseverance, meteoritos funcionam como “marcadores” que revelam tanto a história da atmosfera marciana quanto os ambientes que moldaram sua superfície. Ao mesmo tempo, a missão segue direcionada à investigação de bioassinaturas, incluindo a coleta de amostras que podem conter sinais de compostos orgânicos preservados.
A confirmação científica definitiva dessas evidências depende do futuro retorno de amostras a laboratórios terrestres, etapa essencial para separar processos biológicos de fenômenos puramente geológicos. Nesse contexto, a descoberta do meteorito acrescenta camadas de informação ao mosaico que o rover vem montando desde 2021.
Enquanto avança pela borda da cratera, o Perseverance segue mapeando formações rochosas que compõem um dos ambientes mais promissores do planeta. A presença de Phippsaksla reforça que a região ainda guarda achados inesperados e que cada rocha pode revelar mais sobre a evolução climática, a habitabilidade e a química profunda de Marte.

