Pegadas de 50 milhões de anos mostram vida pré-histórica no Oregon

Pegadas fósseis mostram animais antigos no Oregon. (Foto: Divulgação / NPS)
Pegadas fósseis mostram animais antigos no Oregon. (Foto: Divulgação / NPS)

Pesquisadores realizaram uma análise inovadora de pegadas fossilizadas no Monumento Nacional de Fósseis de John Day, Oregon, revelando detalhes sobre comportamentos de aves, mamíferos e répteis que viveram na região há até 50 milhões de anos. Utilizando tecnologias de imagem 3D, a equipe conseguiu reconstruir de forma detalhada os movimentos e hábitos desses animais, oferecendo informações únicas sobre a vida pré-histórica.

A pesquisa, publicada na revista Palaeontologia Electronica com o estudo “Seguindo seus passos: Relatório de pegadas fósseis de vertebrados do Monumento Nacional John Day Fossil Beds, Oregon, EUA” por Conner Bennett e colaboradores, destaca a importância das pegadas (icnofósseis) como complemento aos fósseis corporais, permitindo entender como os animais viviam, se alimentavam e interagiam com o ambiente.

Descobertas e comportamentos registrados

A análise identificou quatro conjuntos principais de pegadas, cada um oferecendo uma visão distinta do passado:

  • Aves e invertebrados (50–39 milhões de anos): Pequenas pegadas de pássaros ao lado de trilhas de invertebrados indicam que aves costeiras antigas buscavam alimento em águas rasas, comportamento semelhante ao de espécies modernas.
  • Lagarto antigo (~50 milhões de anos): Uma pegada rara com dedos abertos e garras mostra que répteis corriam pelo leito de lagos, registrando um dos poucos rastros desse tipo na América do Norte.
  • Predador felino pré-histórico (~29 milhões de anos): Conjunto de pegadas em cinzas vulcânicas sugere um nimravídeo com garras retráteis, semelhante a felinos modernos.
  • Grande herbívoro (~29 milhões de anos): Pegadas arredondadas de três dedos possivelmente pertencem a ancestrais de antas ou rinocerontes, indicando sua presença em ecossistemas florestais.

Tecnologia 3D e análise detalhada

Imagem ilustrativa da tecnologia 3D utilizada no estudo. (Foto: Fala Ciência via Gemini)
Imagem ilustrativa da tecnologia 3D utilizada no estudo. (Foto: Fala Ciência via Gemini)

A equipe utilizou fotogrametria, unindo milhares de fotografias para criar modelos tridimensionais das pegadas. Isso permitiu visualizar detalhes minuciosos que seriam impossíveis de capturar apenas com observação direta, revelando a interação dos animais com o solo, o comportamento de forrageamento e padrões de locomoção.

Os icnofósseis são fundamentais, pois registram atividades diárias que não podem ser inferidas apenas a partir de ossos e dentes, fornecendo um retrato mais completo do ecossistema antigo do Oregon.

Importância para a paleontologia 

O Monumento Nacional de Fósseis de John Day abriga um dos registros fósseis mais completos da Era dos Mamíferos e Plantas com Flores. Com 14.000 acres de terras protegidas, o local permite que cientistas e visitantes estudem milhões de anos de história geológica e evolutiva.

As descobertas recentes não apenas confirmam a presença dessas espécies na região, como também oferecem contexto comportamental essencial para compreender clima, ambiente e interações ecológicas do passado.

A pesquisa de Bennett et al., publicada na Palaeontologia Electronica, demonstra que as pegadas fossilizadas podem revelar hábitos complexos e comportamentos surpreendentemente modernos, mesmo em espécies extintas há dezenas de milhões de anos. Esses vestígios fornecem um olhar direto sobre a vida pré-histórica, expandindo nosso entendimento da evolução e da ecologia antiga.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.