Pausa de smartphone muda química cerebral e pode melhorar sono e humor

Estudo aponta que três dias de pausa no celular já provocam mudanças químicas no cérebro e melhoram o bem-estar.
Estudo aponta que três dias de pausa no celular já provocam mudanças químicas no cérebro e melhoram o bem-estar. (Foto: Charliepix / Canva Pro)

O uso excessivo de smartphones tem sido frequentemente associado a padrões semelhantes aos observados em transtornos de dependência. No entanto, os mecanismos cerebrais envolvidos ainda são pouco claros. 

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e publicada no periódico Computers in Human Behavior, buscou entender como o cérebro reage a uma curta redução no tempo de uso do celular.

Três dias de restrição digital

O estudo recrutou 25 jovens adultos entre 18 e 30 anos, que foram instruídos a limitar o uso do smartphone por 72 horas, utilizando-o apenas para tarefas essenciais. Antes e após esse período, todos passaram por exames de ressonância magnética funcional e preencheram questionários sobre sono, humor e hábitos de uso.

Durante os exames, os participantes foram expostos a diferentes tipos de imagens, incluindo cenários neutros (como paisagens) e fotos de celulares ligados ou desligados, a fim de avaliar as reações cerebrais diante de estímulos relacionados à tecnologia.

Alterações no sistema de recompensa

Uso excessivo de smartphones pode ativar áreas cerebrais ligadas à dependência e alterar o equilíbrio do humor.
Uso excessivo de smartphones pode ativar áreas cerebrais ligadas à dependência e alterar o equilíbrio do humor. (Foto: Getty Images / Canva Pro)

Os resultados revelaram mudanças significativas em regiões do cérebro associadas ao sistema de recompensa, como o giro cingulado anterior e o núcleo accumbens. Essas áreas são as mesmas frequentemente estudadas em contextos de dependência de substâncias, como nicotina ou drogas.

Também foi observada ativação de vias dopaminérgicas e serotoninérgicas, responsáveis pela regulação do humor, motivação e sensação de prazer. Isso indica que o uso do celular pode estar diretamente relacionado a mecanismos neurológicos semelhantes aos vistos em quadros de vício.

Impactos no bem-estar

Além das alterações cerebrais, os participantes relataram melhora na qualidade do sono e redução de sintomas negativos de humor após o período de restrição. Esses achados sugerem que mesmo curtos intervalos sem exposição constante ao smartphone podem trazer benefícios mensuráveis ao bem-estar físico e emocional.

Limitações do estudo

Apesar dos resultados promissores, a pesquisa apresenta limitações importantes:

  • Número reduzido de participantes
  • Ausência de grupo controle
  • Dependência de relatos subjetivos para medir abstinência e estados emocionais

Ainda assim, o estudo abre caminho para investigações mais amplas sobre a influência dos smartphones no cérebro humano e reforça a necessidade de refletir sobre hábitos de uso na vida cotidiana.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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