Origami transforma o estudo de proteínas no cérebro humano

Pesquisadores usam origami para entender o Alzheimer. (Foto: Aflo Images via Canva)
Pesquisadores usam origami para entender o Alzheimer. (Foto: Aflo Images via Canva)

A antiga arte japonesa do origami está ganhando um novo papel na ciência moderna. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que as dobraduras podem ajudar a compreender como proteínas se organizam ou se deformam, um processo fundamental para entender doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson.

Visualizar essas moléculas em três dimensões é essencial para decifrar seu funcionamento. Com o origami, é possível reproduzir o formato das proteínas de forma simples, acessível e interativa. Cada dobra de papel representa um movimento molecular, facilitando o estudo de estruturas que, no corpo humano, são invisíveis a olho nu.

Quando a forma define a função

Técnica de origami ajuda a estudar proteínas cerebrais. (Foto: Pexels via Canva)
Técnica de origami ajuda a estudar proteínas cerebrais. (Foto: Pexels via Canva)

Na biologia, a forma de uma proteína determina sua função. Porém, quando esse formato se altera, um fenômeno chamado de dobramento incorreto, podem surgir doenças graves. 

Em condições como Alzheimer, Diabetes tipo 2 e encefalopatias priônicas, algumas proteínas assumem um padrão chamado amiloide, formando fibras rígidas e estáveis que se acumulam no cérebro e em outros tecidos.

Esses dobramentos “errados” seguem uma lógica precisa e organizada. Com o modelo em origami, cientistas e estudantes conseguem visualizar e manipular essas formas, entendendo como pequenas mudanças estruturais podem gerar efeitos devastadores no organismo.

Origami como ferramenta científica e educacional

Os modelos de papel desenvolvidos no estudo, apoiado pelo Instituto Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB) e financiado pela FAPERJ e pelo CNPq, são didáticos, baratos e fáceis de reproduzir. Cada folha dobrada simboliza uma folha beta (β),  estrutura básica das proteínas.

Com diferentes padrões de dobras, é possível representar fibras amiloides, observar interações moleculares e até simular o encaixe entre proteínas, algo essencial para compreender como elas se estabilizam ou se tornam tóxicas. O material pode ser usado em aulas, laboratórios e oficinas, tornando o aprendizado mais interativo e inclusivo.

Onde arte e ciência se encontram

O uso do origami na biologia mostra que a ciência não se limita aos laboratórios de alta tecnologia. Mesmo com métodos avançados, como a criomicroscopia eletrônica e a ressonância magnética nuclear, modelos manuais ainda são valiosos para traduzir conceitos complexos.

Ao unir arte, criatividade e conhecimento científico, o origami ajuda a aproximar a sociedade das descobertas sobre as proteínas, pequenas estruturas que guardam grandes segredos sobre a vida e sobre doenças como o Alzheimer.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.