Durante muito tempo, o intestino foi visto apenas como um órgão ligado à digestão. Hoje, a ciência mostra que ele é um verdadeiro centro de controle da saúde metabólica, capaz de influenciar inflamações, o uso da glicose pelo corpo e até a resposta à insulina.
Um estudo recente mostra que compostos gerados pelas bactérias do intestino, influenciados diretamente pela alimentação, podem ajudar o corpo a regular melhor os níveis de açúcar no sangue. Essa evidência reforça a ideia de que as escolhas alimentares têm impacto direto tanto no risco quanto no controle da diabetes tipo 2.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores do Imperial College London, sob liderança de Marc-Emmanuel Dumas, com a colaboração de Patrice Cani, Peter Liu e equipes internacionais.
Por que o intestino influencia tanto a diabetes?
A diabetes tipo 2 não acontece apenas porque a pessoa consome açúcar em excesso. O problema principal está na resistência à insulina, quando o corpo não consegue usar bem esse hormônio.
O estudo mostra que o intestino influencia diretamente esse processo. Algumas bactérias benéficas conseguem transformar nutrientes da alimentação em substâncias que ajudam o organismo a reagir melhor à insulina.
A substância produzida pelas bactérias
Os pesquisadores identificaram uma molécula chamada trimetilamina (TMA). Ela é produzida quando bactérias do intestino metabolizam a colina, um nutriente presente em alimentos comuns do dia a dia.
Nos testes de laboratório e em modelos animais, essa substância foi capaz de:
- Reduzir inflamações silenciosas no organismo
- Ajudar as células a responder melhor à insulina
- Facilitar o controle da glicose no sangue
Esse efeito é importante porque a inflamação constante está diretamente ligada ao avanço da diabetes.
7 alimentos ricos em colina

A colina participa da formação das membranas celulares, do funcionamento do fígado, dos músculos e do cérebro, além de ter papel importante no metabolismo e na saúde neurológica. Incluir alimentos fontes de colina na alimentação diária ajuda a atingir as quantidades recomendadas. A seguir, veja alguns dos principais alimentos ricos nesse nutriente:
1. Ovos
Os ovos estão entre as melhores fontes naturais de colina, especialmente a gema, onde se concentra a maior parte do nutriente. Um ovo médio cozido fornece cerca de 147 mg de colina.
2. Fígado de boi e de frango
O fígado, tanto bovino quanto de frango, é um dos alimentos mais ricos em colina. Uma porção de 100 gramas de fígado de boi pode fornecer aproximadamente 420 mg de colina, o que cobre grande parte da necessidade diária.
3. Carne de frango
Além do fígado, a carne de frango também contribui para a ingestão de colina. Cerca de 100 gramas de peito de frango grelhado oferecem em torno de 70 mg do nutriente.
4. Peixes e frutos do mar
Peixes como salmão, truta e bacalhau, além de camarões, contêm quantidades relevantes de colina. O salmão, por exemplo, fornece cerca de 56 mg por 100 gramas.
5. Carne de porco
A carne suína é outra boa fonte de colina, especialmente em cortes como lombo e presunto. Uma porção de 100 gramas pode oferecer aproximadamente 100 mg de colina.
6. Brócolis
Embora os vegetais não sejam fontes tão concentradas quanto os alimentos de origem animal, o brócolis se destaca entre eles. Uma xícara de brócolis cozidos pode fornecer cerca de 63 mg de colina.
7. Amendoim e outras oleaginosas
O amendoim (que é uma leguminosa) e oleaginosas como castanhas e nozes contêm quantidades moderadas de colina e ajudam a complementar a ingestão diária. Uma porção de 30 gramas de amendoim fornece cerca de 15 mg do nutriente.
Como a trimetilamina age no corpo

A TMA (trimetilamina) atua bloqueando uma proteína chamada IRAK4, que participa de processos inflamatórios associados à resistência à insulina. Quando essa proteína é inibida, o corpo passa a usar a insulina de forma mais eficiente.
Em outras palavras, o organismo consegue controlar melhor o açúcar no sangue sem precisar produzir mais insulina.
O papel da alimentação nesse processo
O estudo reforça uma mensagem importante: o que comemos molda o nosso intestino. A alimentação influencia quais bactérias vivem ali e quais substâncias elas conseguem produzir.
Entre os possíveis benefícios dessa descoberta estão:
- Melhora da saúde metabólica
- Redução do risco de diabetes tipo 2
- Apoio à prevenção em pessoas com síndrome metabólica
- Possível complemento aos tratamentos atuais
Ainda não é uma cura, mas é promissor
Apesar dos resultados animadores, os cientistas alertam que a pesquisa ainda está em fase inicial. São necessários estudos em humanos para confirmar segurança e eficácia. Além disso, cada pessoa possui um microbioma diferente, o que pode influenciar nos resultados.
Mesmo assim, a descoberta representa um avanço importante, pois mostra que o intestino pode ser um aliado no controle da diabetes, e não apenas um órgão digestivo.
Uma nova forma de olhar para a diabetes
Ao colocar o intestino no centro da saúde metabólica, a pesquisa abre caminho para tratamentos que vão além do controle do açúcar no sangue. A ideia é agir na causa do problema, ajudando o corpo a funcionar melhor de dentro para fora.
Se confirmada em humanos, essa abordagem pode mudar a forma como a diabetes é prevenida e tratada no futuro.

