Novo estudo revela que planetas formam água sozinhos e ampliam a habitabilidade cósmica

Planetas podem gerar sua própria água e ampliar a chance de vida. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Planetas podem gerar sua própria água e ampliar a chance de vida. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A possibilidade de existirem muito mais mundos habitáveis no universo acaba de ganhar uma nova perspectiva. Experimentos recentes sugerem que planetas jovens conseguem fabricar água internamente, sem depender de cometas, asteroides ou outras fontes externas. Esse mecanismo, demonstrado em um estudo publicado na Nature, altera profundamente a forma como entendemos a distribuição da água e, portanto, da vida no cosmos.

Logo, a noção de que os oceanos são raros pode estar sendo superada. Conforme apontam os resultados, a interação entre hidrogênio gasoso e rocha derretida em ambientes de alta pressão seria suficiente para gerar grandes volumes de água. Esse processo, antes apenas teórico, ganhou validação experimental. Pontos-chave dessa descoberta:

  • Planetas podem produzir água durante sua própria formação;
  • A água surge como subproduto inevitável da interação entre hidrogênio e rocha;
  • A habitabilidade pode ser muito mais comum do que se imaginava;
  • Sub-Netunos são candidatos promissores para abrigar enormes reservas internas de água;
  • O estudo redesenha estratégias de busca por exoplanetas potencialmente habitáveis.

Um universo onde a água nasce junto com os planetas

Ao simular condições típicas de corpos planetários recém-formados, pesquisadores demonstraram que o hidrogênio primordial interage com minerais ricos em ferro, originando água mesmo em ambientes extremos. Esses cenários, que imitam a fase inicial de planetas cobertos por oceanos de magma, indicam que a água pode emergir naturalmente assim que o planeta começa a se consolidar.

Formação natural de água redefine onde buscar vida no universo. (Imagem: Photo Library/ Canva Pro)
Formação natural de água redefine onde buscar vida no universo. (Imagem: Photo Library/ Canva Pro)

Essa constatação é decisiva, pois reduz a dependência de eventos aleatórios, como impactos cometários, ampliando drasticamente o potencial de mundos habitáveis no universo. Em vez de algo raro, a presença de água passa a ser vista quase como consequência automática da formação planetária.

A multiplicação estatística dos ambientes habitáveis

Atualmente, mais de 6.000 exoplanetas já foram confirmados, e boa parte deles pertence à categoria dos sub-Netunos, corpos que não possuem equivalente no Sistema Solar. Esses planetas, com atmosferas densas e núcleos rochosos, representam o ambiente ideal para o processo que produz água internamente.

Se esse mecanismo for realmente universal, isso significa que uma fração enorme desses mundos já nasce com reservatórios profundos de água, potencialmente capazes de sustentar ambientes estáveis por bilhões de anos.

Assim, a probabilidade estatística de vida fora da Terra aumenta de forma significativa.

Como o laboratório recriou mundos inteiros em miniatura

Novo estudo indica que mundos habitáveis são muito mais comuns. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Novo estudo indica que mundos habitáveis são muito mais comuns. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A equipe utilizou células de bigorna de diamante para reproduzir pressões até 600 mil vezes maiores que as da superfície terrestre, aquecendo amostras minerais a mais de 4.000 °C. Nessas condições extremas, semelhantes às de mantos planetários, a produção de água ocorreu de maneira espontânea.

Modelos reduzidos de sub-Netunos também foram montados em laboratório, unindo núcleos rochosos e atmosferas de hidrogênio. Os resultados reforçaram a ideia de que a formação interna de água é não apenas possível, mas altamente provável.

Durante décadas, acreditou-se que a água líquida dependia quase exclusivamente da posição do planeta na chamada zona habitável. Agora, porém, o foco se desloca: mesmo mundos fora dessa faixa podem desenvolver reservas profundas de água geradas internamente.

Com isso, a compreensão sobre onde procurar vida muda radicalmente. A presença de água deixa de ser uma raridade e passa a ser vista como componente natural da evolução planetária.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.