Novo estudo revela que ancestral humano andava ereto há 4,4 milhões de anos

Tornozelo fóssil mostra início do bipedalismo. (Foto: Sailko via Wikimedia Commons)
Tornozelo fóssil mostra início do bipedalismo. (Foto: Sailko via Wikimedia Commons)

Uma descoberta na Etiópia está desafiando o que se acreditava sobre a evolução humana. O fóssil conhecido como Ardi, pertencente à espécie Ardipithecus ramidus, viveu há cerca de 4,4 milhões de anos e pode ser a chave para entender como o ser humano começou a andar sobre duas pernas.

Ardi apresenta uma mistura incomum de características humanas e de primatas, o que o torna um elo essencial entre os macacos e os primeiros hominídeos. Essa revelação coloca em xeque teorias antigas que separavam rigidamente o comportamento dos humanos do de seus ancestrais primatas.

Corpo adaptado à transição entre árvores e solo

Os pesquisadores descobriram que Ardi possuía estrutura óssea híbrida, capaz de sustentar o corpo tanto nas árvores quanto em terra firme. Seu tornozelo robusto e flexível indicava que ele podia escalar galhos com facilidade, mas também manter-se ereto ao caminhar, ainda que de forma menos eficiente que os humanos modernos.

Essa combinação sugere que Ardi viveu em ambientes de transição, alternando entre florestas densas e áreas mais abertas. A adaptação dupla teria sido essencial para garantir sobrevivência e mobilidade em meio às mudanças climáticas da época.

Tornozelo revela o passado

Descoberta na Etiópia muda teoria da evolução. (Foto: T. Michael Keesey via Wikimedia Commons)
Descoberta na Etiópia muda teoria da evolução. (Foto: T. Michael Keesey via Wikimedia Commons)

A análise detalhada do tornozelo de Ardi trouxe uma das descobertas mais reveladoras do estudo. A estrutura do osso mostrou semelhanças com a de chimpanzés e gorilas, indicando que nossos ancestrais estavam mais próximos dos primatas africanos do que se imaginava.

Além disso, as evidências apontam que o bipedalismo surgiu muito antes das estimativas anteriores, e que Ardi pode ter sido um dos primeiros seres a experimentar essa forma de locomoção.

Evolução não foi uma linha reta

O estudo reforça que a evolução humana foi um processo complexo e não linear. Em vez de uma separação brusca entre macacos e humanos, houve uma série de adaptações graduais e sobrepostas, moldadas por milhões de anos de transformações ambientais.

Ardi simboliza esse ponto de equilíbrio entre o instinto animal e a inteligência emergente, ajudando a compreender como o Homo sapiens começou a se formar muito antes do que se acreditava.

Mais do que uma descoberta arqueológica, Ardi é um marco científico que amplia o entendimento sobre a trajetória evolutiva da humanidade. Seu corpo híbrido mostra que o caminho para o que somos hoje foi cheio de transições, desafios e descobertas biológicas únicas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.