Novo estudo explica por que Alzheimer faz esquecer rostos familiares

Alzheimer compromete reconhecimento de rostos familiares. (Foto: Getty Images via Canva)
Alzheimer compromete reconhecimento de rostos familiares. (Foto: Getty Images via Canva)

O Alzheimer é amplamente conhecido por causar perda de memória, mas um dos efeitos mais devastadores é a incapacidade de reconhecer pessoas próximas, comprometendo relações familiares e sociais. Uma pesquisa recente identificou os mecanismos cerebrais responsáveis por essa falha específica, conhecida como memória social.

O que é a memória social e como ela é afetada

A memória social permite identificar e lembrar rostos e relações afetivas. No Alzheimer, estruturas chamadas redes perineuronais (PNN), que funcionam como uma “malha protetora” ao redor de neurônios críticos, começam a se degradar. Essas redes mantêm a estabilidade sináptica e facilitam a plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de criar e reforçar conexões essenciais para o reconhecimento social.

Quando as PNN se rompem, os neurônios perdem proteção e a comunicação entre regiões do cérebro responsáveis por informações afetivas e sociais enfraquece. O resultado é que o paciente deixa de identificar familiares e amigos, algo que muitos cuidadores descrevem como particularmente doloroso.

Evidências científicas: estudo pré-clínico

Inibidores de MMP podem preservar memória social em Alzheimer. (Foto: Getty Images via Canva)
Inibidores de MMP podem preservar memória social em Alzheimer. (Foto: Getty Images via Canva)

Um estudo publicado na revista Alzheimer’s & Dementia utilizou camundongos com modelo de Alzheimer (5XFAD) para investigar essa degradação. A pesquisa revelou que, a partir dos seis meses de idade, equivalente a estágios iniciais da doença, as PNN na região CA2 do hipocampo, área crítica para memória social, começaram a se romper.

Simultaneamente, os animais passaram a não diferenciar mais conhecidos de estranhos, demonstrando perda da memória social. Os cientistas também observaram que a degradação das PNN estava associada à ativação de enzimas chamadas metaloproteinases de matriz (MMPs), que quebram essas redes protetoras.

Quando inibidores de MMP foram aplicados, as PNN se mantiveram preservadas e a perda de memória social foi retardada, revelando uma nova direção para possíveis tratamentos focados na proteção estrutural do cérebro, diferente das abordagens tradicionais que visam placas de beta-amiloide ou emaranhados de tau.

Implicações para futuros tratamentos

Essa descoberta abre portas para terapias inovadoras que podem preservar a memória afetiva em pacientes com Alzheimer. Proteger as PNN ou impedir sua degradação poderia permitir que os pacientes mantenham relações sociais por mais tempo, melhorando sua qualidade de vida e aliviando o impacto emocional para familiares.

Embora ainda em fase pré-clínica, a pesquisa destaca a importância de explorar alternativas além dos tratamentos tradicionais, oferecendo esperança de que novas estratégias possam ser aplicadas de forma segura em humanos.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.