Neurotecnologia avança e Unesco pede proteção à privacidade mental

Unesco lança alerta sobre o uso ético da tecnologia que lê o cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)
Unesco lança alerta sobre o uso ético da tecnologia que lê o cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)

Avanços na neurotecnologia exigem vigilância ética para proteger emoções e pensamentos humanosO avanço das tecnologias que interagem diretamente com o cérebro humano está transformando o campo da saúde, da educação e até do entretenimento. Implantes cocleares, estimuladores cerebrais e interfaces neurais já ajudam a tratar doenças como Parkinson e depressão, mas também levantam preocupações inéditas.

Diante desse cenário, a Unesco aprovou uma recomendação internacional para o uso ético da neurotecnologia, que entra em vigor em 12 de novembro de 2025.

A proposta surge para garantir a proteção da mente humana, já que esses dispositivos têm acesso a dados íntimos, conhecidos como neurodados, capazes de revelar emoções, pensamentos e padrões de comportamento. A partir dessas informações, torna-se possível influenciar decisões e até manipular percepções, o que gera sérios riscos éticos.

O que está em jogo?

A neurotecnologia traz benefícios reais, como:

  • Restaurar a audição com implantes cocleares;
  • Tratar doenças neurológicas graves com estímulos cerebrais;
  • Apoiar a aprendizagem, ajudando pessoas com deficiências cognitivas.

Mas, ao mesmo tempo, abre brechas perigosas. Sem regulamentação, esses sistemas podem armazenar dados mentais e até induzir comportamentos de consumo, explorando emoções humanas para fins comerciais. Por isso, a recomendação da Unesco estabelece limites éticos claros e princípios universais para o uso dessa tecnologia.

Proteção da mente e transparência obrigatória

Avanço da neurotecnologia exige limites e transparência. (Foto: Getty Images via Canva)
Avanço da neurotecnologia exige limites e transparência. (Foto: Getty Images via Canva)

O documento define que governos devem:

  • Criar leis específicas para proteger neurodados e impedir seu uso indevido;
  • Garantir transparência total em pesquisas e produtos baseados em neurotecnologia;
  • Impedir que empresas usem esses dispositivos para monitorar produtividade ou manipular consumidores;
  • Proibir aplicações durante o sono, como marketing subliminar em sonhos.

Essas medidas visam preservar a integridade mental e emocional das pessoas, assegurando que a tecnologia não ultrapasse limites éticos nem viole o direito à privacidade mental.

Uso em crianças e ambiente educacional

Outro ponto central é a restrição ao uso não terapêutico da neurotecnologia em crianças e adolescentes. Como o cérebro ainda está em desenvolvimento, o uso dessas ferramentas deve ocorrer apenas em situações pedagógicas legítimas, como apoio a estudantes com dificuldades de aprendizagem.

Para tanto, os projetos devem ter base científica comprovada e consentimento informado dos responsáveis.

Um marco para o futuro

A recomendação da Unesco marca o primeiro quadro global de ética para a neurotecnologia, estabelecendo parâmetros que orientam tanto pesquisas científicas quanto produtos comerciais. O objetivo é assegurar que a revolução tecnológica em curso respeite a autonomia, a dignidade e a privacidade humana.

Enquanto a neurociência avança em ritmo acelerado, a vigilância ética se torna essencial para garantir que o poder de acessar a mente humana continue servindo à saúde, e não ao controle.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.