Diabetes, câncer, obesidade e outras doenças crônicas deixaram de ser exclusividade humana. Nos últimos anos, pesquisadores têm observado um aumento expressivo dessas condições em diferentes espécies, desde animais domésticos até fauna silvestre.
Um levantamento conduzido por Antonia Mataragka, da Universidade Agrícola de Atenas, publicado na revista Risk Analysis, revela que fatores ambientais, genéticos e comportamentais estão por trás desse avanço, e que a situação tende a se agravar.
Quando o ambiente se transforma, o corpo dos animais reage
Após revisar estudos sobre doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), a pesquisadora identificou um padrão: à medida que o ambiente muda, a saúde animal muda junto. Entre os principais elementos que impulsionam o adoecimento estão:
- Urbanização acelerada, que expõe espécies a poluentes e reduz ambientes naturais.
- Mudanças climáticas, que alteram temperatura, disponibilidade de alimento e equilíbrio hormonal.
- Perda de biodiversidade, que aumenta o contato com substâncias tóxicas e microrganismos.
- Uso intensivo do solo, responsável por disseminar resíduos químicos que interferem no sistema endócrino.
Essas pressões ambientais criam um terreno fértil para inflamações crônicas, desregulação metabólica e alterações imunológicas.
Raças selecionadas e rotina moderna favorecem enfermidades

Além dos impactos do ambiente, o estudo destaca que a seleção genética em cães, gatos e animais de criação pode aumentar a predisposição a doenças como diabetes, insuficiência cardíaca e problemas metabólicos. Certos atributos estéticos ou produtivos acabam reduzindo a variabilidade genética, tornando essas espécies mais vulneráveis.
Entretanto, outro fator vem crescendo em importância: o estilo de vida imposto pelos humanos. Alimentação inadequada, baixa atividade física e estresse prolongado já são reconhecidos como gatilhos de DCNTs em animais de companhia.
Mudanças climáticas estão acelerando o adoecimento
O aquecimento global exerce efeitos diretos e amplos. Nos oceanos, por exemplo, a elevação da temperatura prejudica corais e cria condições que aumentam a incidência de tumores em peixes e tartarugas marinhas. Em áreas urbanas, o calor intenso e a má qualidade do ar contribuem para obesidade, doenças autoimunes e descompensações metabólicas em animais domésticos.
Aves e mamíferos, por sua vez, sofrem com a exposição crescente a substâncias químicas provenientes do solo e da atmosfera, afetando principalmente a regulação hormonal.
O desafio veterinário: detectar cedo e agir rápido
O estudo enfatiza que a falta de sistemas de diagnóstico precoce dificulta o reconhecimento de doenças crônicas em estágios iniciais, atrasando intervenções.
Por isso, torna-se essencial implementar estratégias de vigilância contínua, desenvolver métodos sensíveis para identificar sinais iniciais e criar políticas públicas voltadas à redução dos fatores ambientais que agravam as DCNTs.
O que pode ser feito agora
Para mitigar o avanço das doenças crônicas em animais, o estudo destaca a necessidade de:
- Monitoramento constante de animais domésticos, de criação e silvestres;
- Rotinas mais saudáveis para pets, incluindo alimentação e exercícios adequados;
- Ações ambientais que diminuam exposição a poluentes e extremos climáticos;
- Pesquisas amplas que aprofundem a relação entre ambiente e saúde animal.
Proteger animais significa, também, proteger ecossistemas, e, inevitavelmente, proteger a nós mesmos.

