Morar em áreas poluídas pode acelerar o envelhecimento do cérebro, mostra estudo

Ambientes desfavoráveis aumentam o risco de demência. (Foto: Getty Images via Canva)
Ambientes desfavoráveis aumentam o risco de demência. (Foto: Getty Images via Canva)

O lugar onde vivemos vai muito além de um simples endereço. De acordo com uma nova pesquisa publicada na revista Alzheimer’s & Dementia: Behavior & Socioeconomics of Aging, fatores como poluição, moradia, renda e acesso a oportunidades podem literalmente moldar a estrutura e o funcionamento do cérebro.

Cientistas da Universidade Wake Forest analisaram exames cerebrais e marcadores biológicos de 679 adultos e encontraram uma ligação clara entre as condições do bairro e o risco de desenvolver demência. Em regiões com maior desigualdade social e ambiental, os cérebros apresentaram camadas corticais mais finas, fluxo sanguíneo alterado e mudanças na substância branca, todas associadas a um maior risco de declínio cognitivo.

Desigualdade social deixa marcas no cérebro

Poluição e desigualdade deixam marcas no cérebro. (Foto: Pexels via Canva)
Poluição e desigualdade deixam marcas no cérebro. (Foto: Pexels via Canva)

Os resultados mostraram que a desigualdade social não é apenas um problema econômico: ela deixa marcas biológicas mensuráveis. Participantes que viviam em áreas com alta vulnerabilidade social e ambiental apresentaram sinais precoces de alterações vasculares cerebrais e redução da espessura cortical.

Entre os grupos mais afetados estavam participantes negros residentes em bairros com maiores índices de obesidade e desvantagem social, o que reforça o impacto da injustiça ambiental e estrutural na saúde cerebral.

Esses dados reforçam que a demência não é apenas resultado de genética ou estilo de vida, mas também de condições externas, como:

  • Exposição a poluição atmosférica;
  • Falta de alimentação saudável;
  • Acesso limitado a espaços verdes e cuidados médicos;
  • Estresse crônico associado à desigualdade.

A biologia da desigualdade

Para compreender melhor essas relações, os pesquisadores usaram três índices nacionais:

  • Índice de Privação de Área;
  • Índice de Vulnerabilidade Social;
  • Índice de Justiça Ambiental.

Pontuações mais altas nesses indicadores se correlacionaram com mudanças cerebrais associadas à demência, incluindo redução do fluxo sanguíneo e alterações na substância branca, essenciais para a comunicação entre as regiões do cérebro.

Esses resultados colocam a neurociência e a saúde pública lado a lado, revelando que a desigualdade social está literalmente gravada no cérebro humano.

Cuidar do bairro é cuidar da mente

O estudo reforça que melhorar a saúde do cérebro exige mais do que hábitos individuais. Políticas públicas voltadas à habitação digna, ar limpo, transporte seguro e alimentação saudável podem ser determinantes para reduzir o risco de demência em comunidades inteiras.

A ciência mostra, assim, que cuidar do ambiente em que vivemos é também cuidar do cérebro. O caminho para uma mente saudável começa, muitas vezes, fora da cabeça, e dentro da sociedade.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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