Molécula enigmática em anã marrom questiona hipóteses sobre vida extraterrestre

Descoberta intrigante em Wolf 1130C desafia expectativas (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)
Descoberta intrigante em Wolf 1130C desafia expectativas (Imagem: Pixabay/ Canva Pro)

A descoberta de fosfina na atmosfera da anã marrom Wolf 1130C trouxe um novo olhar para a complexidade química do universo e reacendeu debates sobre possíveis sinais de vida extraterrestre, incluindo em Vênus

Embora anãs marrons não sejam estrelas completas nem planetas, elas apresentam ambientes extremos que desafiam nosso entendimento sobre a formação e persistência de moléculas simples, como a fosfina.

Resumo do achado:

  • Wolf 1130C é uma anã marrom antiga com condições atmosféricas únicas;
  • A molécula fosfina (PH₃) foi detectada em sua atmosfera, indicando processos químicos não biológicos;
  • Observações do James Webb Space Telescope (JWST) permitiram a identificação da molécula no infravermelho;
  • A detecção levanta dúvidas sobre o uso da fosfina como bioassinatura confiável em outros planetas;
  • Estudos futuros devem analisar reações químicas extremas em diferentes tipos de anãs marrons e exoplanetas.

Anãs marrons: intermediárias entre estrelas e planetas

As anãs marrons são objetos celestes formados pelo colapso de nuvens de gás interestelar, mas sem massa suficiente para sustentar a fusão de hidrogênio como ocorre em estrelas típicas. 

Elas conseguem fundir deutério por curtos períodos, liberando calor que se movimenta em ciclos de convecção, aquecendo as camadas superiores. A superfície dessas estrelas “incompletas” pode variar de temperaturas próximas ao ambiente até cerca de 2.000 °C em exemplares mais jovens, e emite radiação infravermelha observável por telescópios espaciais, como o James Webb Space Telescope (JWST).

Esses objetos cósmicos fornecem um laboratório natural para estudar reações químicas que não ocorrem em estrelas convencionais, oferecendo pistas sobre processos atmosféricos em condições extremas.

A presença enigmática da fosfina

Fosfina em anã marrom amplia debate sobre vida em Vênus (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Fosfina em anã marrom amplia debate sobre vida em Vênus (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A fosfina (PH₃) é uma molécula simples formada por fósforo e hidrogênio, considerada na Terra como produto de processos biológicos. Sua detecção em Vênus em 2020 gerou entusiasmo, pois as condições daquele planeta destruiriam rapidamente a molécula, sugerindo produção contínua. 

No entanto, a presença da mesma substância em Wolf 1130C, um ambiente não biológico, indica que reações químicas complexas podem gerar fosfina sem a necessidade de vida.

Observações do JWST em 23 anãs marrons de diferentes temperaturas não haviam detectado fosfina, mas Wolf 1130C, com aproximadamente 320 °C e baixo teor de metais, apresentou quantidades mensuráveis, alinhando-se parcialmente a modelos teóricos. 

Ainda assim, não há modelo único que explique a presença da molécula em anãs marrons, Júpiter, Saturno e exoplanetas gasosos, levantando dúvidas sobre seu uso como bioassinatura confiável.

Implicações e próximos passos

A descoberta evidencia que a química atmosférica de objetos espaciais é mais complexa do que se imaginava, e que moléculas associadas à vida na Terra podem surgir por meios químicos ou físicos em contextos extraterrestres.

  • Wolf 1130C é uma anã marrom antiga, possivelmente favorecendo a formação de fosfina;
  • Observações espectroscópicas do JWST permitem identificar moléculas por assinaturas únicas no infravermelho;
  • A detecção amplia a discussão sobre o uso de fosfina como bioassinatura em planetas e exoplanetas;
  • Novos estudos são necessários para compreender processos químicos extremos fora da Terra;
  • A ciência permanece cautelosa quanto à relação direta entre fosfina e vida extraterrestre.

Essa descoberta demonstra que investigações astrobiológicas devem considerar alternativas químicas e físicas, evitando conclusões precipitadas sobre vida fora da Terra. A busca por bioassinaturas confiáveis continua sendo um desafio, e cada observação adiciona camadas de complexidade ao nosso conhecimento do cosmos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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