Mistério da aceleração do 3I/ATLAS ganha explicação física após simulações

Nova análise explica aceleração extra do cometa 3I/ATLAS sem mistério (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Nova análise explica aceleração extra do cometa 3I/ATLAS sem mistério (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O enigmático 3I/ATLAS, terceiro visitante interestelar já confirmado no Sistema Solar, voltou a chamar atenção ao exibir uma aceleração que parecia desafiar a gravidade. A princípio, a mudança de comportamento levantou especulações sobre fenômenos raros, mas novas análises científicas mostram que o mecanismo por trás desse “impulso extra” é bem mais familiar e totalmente compatível com a física cometária tradicional.

Logo após sua detecção oficial, em 2025, o cometa demonstrou características típicas de corpos gelados que viajam pelo espaço profundo: emissão de poeira, formação de coma e caudas definidas. No entanto, cálculos orbitais revelaram uma aceleração adicional que exigia investigação detalhada. Pontos essenciais da nova análise:

  • A aceleração observada não pode ser explicada somente pela gravidade;
  • Modelos testaram a liberação de gases internos como possível causa;
  • A desgaseificação foi suficiente para reproduzir o impulso medido;
  • Menos de 1% da superfície ativa explica a força observada;
  • Detecção de hidroxila reforça a presença contínua de liberação de água.

Sinais de um mecanismo clássico, não de fenômenos raros

A nova investigação publicada no arXiv desmonta a ideia de processos fora do comum. A liberação de gases aprisionados, fenômeno comum em cometas aquecidos pelo Sol, mostrou-se plenamente capaz de justificar a aceleração adicional. Ao escapar por fissuras na superfície, essas moléculas funcionam como microjatos que alteram discretamente a trajetória do objeto.

Desgaseificação natural revela por que o 3I/ATLAS acelerou no espaço (Imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Image Processing: Joseph DePasquale (STScI))
Desgaseificação natural revela por que o 3I/ATLAS acelerou no espaço (Imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Image Processing: Joseph DePasquale (STScI))

Simulações computacionais, aliadas a modelos termofísicos, apontam que até mesmo pequenas áreas ativas conseguem gerar a força necessária. Misturas de gelo contendo compostos como dióxido de carbono, monóxido de carbono e amônia podem contribuir de forma combinada, reforçando que não há necessidade de recorrer a elementos exóticos.

Evidências observacionais reforçam o cenário físico

Enquanto os modelos teóricos fornecem explicações convincentes, as observações recentes fortalecem o quadro geral. O radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul, detectou moléculas de hidroxila, resultado direto da quebra da água liberada pelo calor solar. Isso confirma que o cometa está ativamente expelindo voláteis, exatamente como previsto por processos naturais.

Essa liberação ocorre com maior intensidade após a passagem pelo periélio (o ponto mais próximo do Sol), quando o aumento de temperatura intensifica a sublimação dos gelos superficiais.

Um visitante que carrega pistas da formação planetária

Aceleração do 3I/ATLAS é normal e causada por jatos de gás internos (Imagem: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA/Shadow the Scientist)
Aceleração do 3I/ATLAS é normal e causada por jatos de gás internos (Imagem: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA/Shadow the Scientist)

Por ter origem além do Sistema Solar, o 3I/ATLAS preserva materiais praticamente intactos desde a formação de seu sistema estelar. Essa composição primitiva transforma o cometa em uma cápsula temporal cósmica, capaz de fornecer pistas sobre os estágios iniciais de sistemas planetários.

À medida que ele avança em sua trajetória de retorno ao espaço interestelar, novas observações deverão aprofundar a compreensão sobre seus materiais, sua perda de massa e o impacto do vento solar em sua evolução.

O mistério, portanto, não exige explicações extraordinárias: o comportamento do 3I/ATLAS continua sendo um espetáculo da física regular, fascinante em si mesma e repleta de informações valiosas sobre os cometas que vagam entre as estrelas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.