O metanol, presente em bebidas adulteradas, pode parecer inofensivo nas primeiras horas, mas rapidamente se transforma em uma ameaça grave à saúde. O perigo não está no álcool em si, mas nos compostos que o fígado produz ao metabolizá-lo, tornando-o tóxico para os órgãos mais sensíveis do corpo.
Inicialmente, o organismo trata o metanol de forma semelhante ao etanol, encontrado em bebidas comuns. A diferença crucial está na enzima álcool desidrogenase, que converte o metanol em formaldeído e, posteriormente, em ácido fórmico, substâncias altamente nocivas para o sistema nervoso central, os olhos e órgãos vitais como coração e rins.
O fígado como fábrica de toxinas
O metabolismo do metanol transforma o fígado em uma verdadeira “fábrica de toxinas”: enquanto tenta neutralizar o álcool, acaba gerando compostos que atacam as células que mais dependem de energia.
Isso explica por que a visão é um dos primeiros sentidos afetados, com sintomas como visão borrada, fotofobia e percepção de pontos luminosos. Além disso, a presença de ácido fórmico provoca acidose metabólica, sobrecarregando coração, pulmões e rins, e podendo evoluir para falência múltipla se não houver intervenção.
Sintomas e sinais de alerta
A intoxicação por metanol apresenta sintomas que podem inicialmente enganar:
- Náuseas e dor abdominal
- Tontura e dor de cabeça
- Alterações visuais e fotofobia
- Confusão mental e fraqueza
- Em casos graves, convulsões, coma e arritmias
O engano inicial ocorre porque o metanol e o etanol competem pela mesma via enzimática. Enquanto o etanol gera compostos relativamente seguros, o metanol produz ácido fórmico, que não é facilmente neutralizado, tornando o metabolismo do fígado uma ameaça silenciosa.
Intervenção médica e tratamento

A intervenção imediata é crucial e envolve estratégias para neutralizar os efeitos do metanol:
- Fomepizol, que inibe a enzima responsável por transformar o metanol em compostos tóxicos.
- Etanol, que ocupa a mesma via metabólica, diminuindo a produção de substâncias nocivas.
- Hemodiálise, indicada em situações graves, para eliminar rapidamente o metanol e seus metabólitos do organismo.
Quanto mais cedo for iniciado o atendimento médico, maiores as chances de reverter danos neurológicos e visuais.
O metanol mostra que o fígado nem sempre é apenas um órgão protetor: em certas situações, ele pode se tornar a principal fonte de toxinas que ameaçam a vida. O caso reforça a importância da educação sobre os riscos de consumir bebidas adulteradas e a necessidade de buscar atendimento imediato diante de qualquer suspeita de intoxicação.