Melatonina em excesso pode afetar o coração e elevar risco de insuficiência, revela estudo

Uso prolongado de melatonina eleva risco cardíaco. (Foto: Anytka via Canva)
Uso prolongado de melatonina eleva risco cardíaco. (Foto: Anytka via Canva)

O que antes era visto como um suplemento inofensivo para dormir melhor pode, na verdade, esconder riscos importantes para a saúde do coração. Resultados preliminares apresentados pela American Heart Association sugerem que o uso prolongado da melatonina pode estar associado a um aumento do risco de insuficiência cardíaca e mortalidade geral em pessoas com insônia.

Os dados chamam a atenção para a necessidade de reavaliar o uso contínuo do hormônio, especialmente entre aqueles que o consomem sem prescrição médica.

O que o estudo descobriu

A pesquisa analisou registros de 130 mil adultos com insônia, acompanhados por um período de cinco anos. Cerca da metade usava melatonina por um ano ou mais, e os resultados foram surpreendentes:

  • Usuários frequentes tiveram até 90% mais risco de desenvolver insuficiência cardíaca;
  • O grupo apresentou 3,5 vezes mais hospitalizações por problemas cardíacos;
  • Houve quase o dobro de risco de morte por qualquer causa.

Esses dados, ainda que preliminares, reforçam que o hormônio não deve ser utilizado sem orientação médica, mesmo sendo de venda livre.

Entendendo o papel da melatonina

Melatonina em excesso pode afetar o coração. (Foto: Alexlmx via Canva)
Melatonina em excesso pode afetar o coração. (Foto: Alexlmx via Canva)

A melatonina é um hormônio natural produzido pela glândula pineal, localizada no centro do cérebro. Sua principal função é regular o ciclo do sono e vigília, indicando ao corpo que é hora de descansar.

Existem duas formas de melatonina:

  • Endógena, produzida naturalmente pelo organismo;
  • Exógena, fabricada em laboratório e vendida em comprimidos ou cápsulas.

A suplementação é recomendada apenas para casos específicos, como transtornos do espectro autista, deficiência visual e distúrbios do ritmo circadiano. No entanto, o uso indiscriminado como solução rápida para insônia pode interferir no equilíbrio hormonal e cardiovascular.

Riscos do uso sem orientação

O consumo desregulado de melatonina pode causar efeitos adversos significativos, principalmente quando feito em doses altas ou por longos períodos. Entre os principais sintomas estão:

  • Sonolência diurna e fadiga;
  • Tontura e dores de cabeça;
  • Náuseas e pesadelos;
  • Falta de concentração e irritabilidade.

Além disso, há indícios de que o uso contínuo possa afetar funções metabólicas e cardiovasculares, aumentando o risco de doenças crônicas.

Maneiras seguras de melhorar o sono naturalmente

Em muitos casos, é possível estimular a produção natural de melatonina sem recorrer a suplementos. Algumas estratégias simples incluem:

  • Expor-se à luz solar durante o dia;
  • Evitar telas (celular, TV, tablet) antes de dormir;
  • Manter o quarto escuro e silencioso;
  • Respeitar um horário regular de sono.

Esses hábitos ajudam o corpo a restabelecer o ritmo circadiano natural, melhorando a qualidade do sono de forma segura.

O estudo da American Heart Association, liderado pelo pesquisador Ekenedilichukwu Nnadi, ainda requer confirmação em novas análises, mas serve como um alerta importante: nem todo suplemento é isento de riscos. 

O uso prolongado da melatonina deve ser avaliado individualmente, com acompanhamento médico, para que o equilíbrio entre sono e saúde cardíaca seja mantido.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.