Medicamento antidiarreico mostra potencial em ativar regeneração neuronal

Racecadotrila estimula neurônios em lesões medulares. (Foto: Pexels via Canva)
Racecadotrila estimula neurônios em lesões medulares. (Foto: Pexels via Canva)

O princípio ativo racecadotrila, o Tiorfan, tradicionalmente usado como antidiarreico, revelou recentemente um potencial inovador na neurociência

Pesquisadores da Universidade da Califórnia publicaram na Nature um estudo mostrando que, em condições controladas, a molécula pode ativar mecanismos de regeneração em neurônios adultos, oferecendo esperança para pacientes com lesão medular.

Como a racecadotril atua na regeneração neuronal

Neurônios adultos raramente se dividem, o que limita a recuperação após lesões na medula espinhal. Nos experimentos com ratos com lesão medular, os cientistas combinaram a racecadotrila com células precursoras de neurônios e observaram:

  • Regeneração de neurônios na região lesionada;
  • Melhora significativa da mobilidade, especialmente das mãos;
  • Estimativa de até 50% mais recuperação comparada às terapias atuais

A molécula atua ativando mecanismos celulares de reparo que estavam inativos, mostrando que medicamentos já existentes podem ter novos usos revolucionários.

Impacto científico e metodológico

Estudo mostra recuperação motora em modelos animais. (Foto: Getty Images via Canva)
Estudo mostra recuperação motora em modelos animais. (Foto: Getty Images via Canva)

Além dos efeitos diretos na regeneração, a pesquisa trouxe importantes avanços para a ciência:

  • Cultura em larga escala de neurônios adultos, antes impossível;
  • Testes mais seguros de novos medicamentos e terapias genéticas;
  • Aceleração de estudos sobre doenças neurológicas, graças à maior disponibilidade de células.

Essa convergência de tecnologias modernas, bioinformática, sequenciação genética e cultura celular avançada, permite acelerar tratamentos que poderiam levar décadas para se tornar viáveis.

Precauções e próximos passos

Apesar do potencial promissor, é importante reforçar que não se deve usar racecadotrila por conta própria para regeneração neuronal. As concentrações eficazes e seguras para humanos ainda estão sendo estudadas.

O próximo passo é otimizar a molécula para ensaios clínicos, aproveitando o fato de que já possui histórico de segurança como antidiarreico.

O estudo posiciona a racecadotrila como uma promessa concreta na regeneração neuronal, abrindo caminho para terapias mais rápidas, eficazes e acessíveis. Com potencial de restaurar funções motoras perdidas, esta descoberta pode redefinir o tratamento de paralisias atualmente consideradas irreversíveis.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.