Durante bilhões de anos, o universo foi um laboratório fervilhante de criação estelar. No entanto, novas análises realizadas por pesquisadores ligados ao telescópio Euclid e combinadas com medições do observatório Herschel indicam que essa era de intensa atividade já ficou para trás. O estudo, submetido à revista Astronomy and Astrophysics e assinado por Ryley Hill e colaboradores, revela que o cosmos está entrando em uma fase cada vez mais fria, rarefeita e pouco produtiva.
As conclusões surgem a partir da leitura de mais de 2 milhões de galáxias, onde padrões de aquecimento da poeira estelar mostram que a temperatura média do universo caiu ao longo dos últimos 10 bilhões de anos, um sinal direto da redução no ritmo de formação de novas estrelas.
Para guiar essa compreensão, vale destacar cinco pontos fundamentais:
- A temperatura média das galáxias teve queda lenta, porém consistente;
- Menos calor na poeira estelar indica queda na formação de estrelas;
- O universo já superou seu pico de atividade estelar;
- Dados do Euclid permitem o maior mapeamento tridimensional já planejado;
- A tendência aponta para um cosmos progressivamente mais frio e estático.
O resfriamento que denuncia o futuro do cosmos
O Euclid, cuja missão inclui construir o maior mapa 3D do universo, observou dezenas de milhões de galáxias em longas distâncias cósmicas. Quando seus dados foram combinados ao acervo infravermelho profundo do Herschel, tornou-se possível medir o calor da poeira que envolve regiões onde estrelas nascem. Essa poeira funciona como um marcador do ambiente: quanto mais quente, maior a probabilidade de novas estrelas estarem se formando.

Ao observar que a temperatura média caiu cerca de 10 kelvins ao longo de bilhões de anos, os pesquisadores concluíram que a produção de estrelas está diminuindo de forma gradual e contínua. Embora pequena, essa queda representa um sinal claro: o combustível cósmico está se tornando escasso.
Por que as galáxias estão desacelerando?
O nascimento de uma estrela depende da existência de nuvens densas de gás e poeira que colapsam sob gravidade. Contudo, esses materiais podem ser dispersos por diversos processos. Entre eles estão fusões galácticas, explosões energéticas próximas a buracos negros supermassivos e perda de gás para o meio intergaláctico. Com menos matéria-prima disponível, a taxa de formação estelar despenca e as galáxias tornam-se cada vez mais “adormecidas”.
Esse fenômeno não significa o fim imediato do universo, mas aponta para um futuro dominado por objetos longamente estáveis, como anãs brancas e buracos negros, enquanto novas estrelas surgirão com frequência cada vez menor.
O mapa definitivo do universo está em construção
O Euclid ainda está em fase inicial de sua missão, que pretende catalogar cerca de 1,5 bilhão de galáxias. Por isso, os resultados atuais representam apenas uma prévia de uma transformação científica ainda maior: criar a visão mais detalhada do cosmos já obtida.
À medida que mais dados forem coletados, o retrato da evolução térmica e estrutural do universo deverá se tornar ainda mais preciso.Por ora, o que se sabe é claro: o universo está perdendo calor, ritmo e brilho, num processo lento, porém inevitável, a assinatura de um cosmos que amadurece enquanto sua capacidade de gerar novas estrelas se esgota.

