Macacos mostram senso de ritmo ao som de Backstreet Boys e surpreendem cientistas

Backstreet Boys ajudam cientistas a testar senso rítmico em Macacos-rhesus. (Foto: Getty Images via Canva e Instagram)
Backstreet Boys ajudam cientistas a testar senso rítmico em Macacos-rhesus. (Foto: Getty Images via Canva e Instagram)

A ideia de que apenas humanos e algumas aves conseguem acompanhar conscientemente a batida da música acaba de ser revista. Um estudo publicado na revista científica Science, conduzido por Vani G. Rajendran et al., mostrou que macacos-rhesus são capazes de identificar, prever e reproduzir ritmos musicais, algo antes considerado fora do alcance de espécies sem aprendizagem vocal complexa. 

Os resultados reacendem discussões sobre como o cérebro reconhece padrões sonoros e de que forma habilidades musicais podem ter surgido ao longo da evolução.

Um experimento surpreendente

Os pesquisadores treinaram dois macacos para tocar um sensor no ritmo de diferentes estímulos. Primeiro, eles aprenderam a sincronizar toques com o timing preciso de um metrônomo. Depois, avançaram para o desafio mais complexo: seguir músicas reais, com variações de intensidade, múltiplos instrumentos e batidas que precisam ser identificadas pelo cérebro.

Mesmo diante dessa complexidade, os macacos conseguiram se adaptar ao ritmo das faixas. Quando a velocidade das músicas era alterada, eles ajustavam a cadência dos movimentos, demonstrando sincronização ativa e não apenas reflexos condicionados.

Quando a música perde a estrutura, o ritmo some

Para definir se os animais estavam realmente reconhecendo a batida, os pesquisadores criaram versões embaralhadas das músicas, nas quais a estrutura rítmica deixava de existir. 

Nessa condição, os macacos não mantiveram o mesmo desempenho. Eles só conseguiam seguir o ritmo quando de fato havia uma batida clara para ser percebida, reforçando a ideia de que estavam detectando o compasso musical e não apenas repetindo um padrão treinado.

O momento Backstreet Boys

Macacos seguem ritmo original de música com precisão surpreendente. (Foto: Getty Images via Canva)
Macacos seguem ritmo original de música com precisão surpreendente. (Foto: Getty Images via Canva)

Na etapa final, os macacos ouviram “Everybody”, dos Backstreet Boys, em diferentes velocidades. Mesmo podendo escolher livremente o ritmo dos toques, eles espontaneamente acompanharam o compasso original da música, o que demonstrou flexibilidade rítmica e reconhecimento auditivo avançado.

A hipótese dos quatro componentes

Com base nos resultados, os autores propuseram a hipótese dos quatro componentes (4Cs) para explicar a capacidade musical observada. Segundo eles, a percepção de ritmo pode surgir da combinação de processos que não dependem exclusivamente do aprendizado vocal:

  • Detecção auditiva da batida
  • Antecipação temporal
  • Coordenação entre audição e movimento
  • Refinamento por recompensa

Essa abordagem sugere que a sensibilidade rítmica pode ser mais distribuída na árvore evolutiva do que se pensava.

Os achados desafiam uma visão antiga da neurociência e indicam que habilidades musicais podem emergir de sistemas cognitivos compartilhados entre diferentes espécies. Para a ciência do comportamento, isso abre caminho para novas investigações sobre memória, previsão temporal e como o cérebro organiza estímulos complexos.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.